Desde muito cedo que as bancadas ao longo da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, começaram a encher-se de apoiantes de Bolsonaro, vestidos com as cores da bandeira do Brasil, verde e amarela, os tons que Bolsonaro se apropriou. Estava tudo pronto para um comício de apoio ao Presidente que se recandidata a um novo mandato nas eleições de 2 de outubro.
Marcelo Rebelo de Sousa assistiu a tudo isto, na primeira fila ao lado de Bolsonaro e de um empresário que esteve preso e garante que se Lula vencer as eleições vai “aplicar um golpe de Estado”.
O clima no Brasil é muito tenso. Ao longo de cerca de duas horas que durou o desfile, os apoiantes de Bolsonaro gritaram palavras de ordem de apoio ao Presidente e recandidato e de crítica ao adversário Lula da Silva, que segue na frente nas sondagens, como “A nossa bandeira jamais será vermelha”, “Lula ladrão, o seu lugar é na prisão” ou “Não é mole não, o Bolsonaro é o dono da nação”.
Da tribuna, Marcelo diz que não escutou nada. “Da tribuna não ouvia as palavras de ordem, vi as tribunas cheias de brasileiros”.
Perante a insistência dos jornalistas, o Presidente garantiu que não se sentiu desconfortável e que está “a representar Portugal num momento histórico, fosse qual fosse o Presidente", declarou Marcelo Rebelo de Sousa, questionado pelos jornalistas no final do desfile, em Brasília. “Venho aqui num momento histórico, e não é histórico por haver uma eleição, mas porque são os 200 anos de independência do Brasil”, sublinhou.
O Presidente garantiu ainda que a campanha dura um mês, e que a história de um país dura muito mais. “O que ficou para a história é que um Presidente português esteve nos 200 anos da independência do Brasil”, frisou.
“Portugal tem relações com ditaduras e democracias”
Na tentativa de explicar porque decidiu vir ao Brasil em plena campanha eleitoral, Marcelo recuou no tempo para lembrar como foi há 100 anos, e questionado sobre se estava a falar de uma ditadura militar, o Presidente garantiu que “Portugal tem relações diplomáticas com ditaduras e com democracias”.
“Eu convidei chefes de Estado independentemente dos regimes serem parecidos ou não. O que interessa é que há um milhão de portugueses no Brasil e 250 mil brasileiros a viver em Portugal. E lá continuam independentemente de quem é o presidente”, rematou Marcelo Rebelo de Sousa.
No desfile das comemorações do “grito do Ipiranga”, em que o rei D. Pedro I declarou a independência do Brasil, em 1822, estiveram militares, forças de segurança, crianças, mas também os tratores do “agronegócio”, que é um dos grandes financiadores da campanha de Jair Bolsonaro.
Na tribuna presidencial marcou presença o empresário Luciano Hang, que recentemente esteve detido por suspeita de, juntamente com outros homens de negócios, ter alegadamente defendido um golpe de Estado caso Lula da Silva vença as eleições.
Marcelo Rebelo de Sousa falou aos jornalistas no hotel onde está hospedado. Um grupo de apoiantes de Bolsonaro aplaudiu o Presidente e criticou os jornalistas, em clima de alguma confusão e gritos de “comunistas”.