O primeiro-ministro António Costa admitiu esta segunda-feira, em entrevista à SIC, que hoje foi “um dia triste”, com a primeira morte confirmada em Portugal devido ao novo coronavírus, mas reforçou que o mesmo serve igualmente para “demonstrar que há um desafio para enfrentar, fazendo tudo por tudo para preservar a vida”. “É por isso que as medidas têm de ser tomadas”, explicou.
As medidas, garante, têm de ser ponderadas, “intervindo o Governo na margem daquilo que é estritamente essencial”, até porque, acrescentou o primeiro-ministro, “perante um vírus que é novo, não tem havido ainda suficiente consenso científico e técnico para permitir decisões seguras”.
Garantindo que é necessário “manter a sociedade a funcionar”, António Costa reforçou que o Governo “deve intervir, proibindo quando é necessário e obrigando quando é necessário”. Sobre a declaração de estado de emergência, o primeiro-ministro garantiu que se for essa a decisão de Marcelo Rebelo de Sousa, “o Governo dará parecer favorável”.
No entanto, ressalvou a dureza da decisão, a acontecer. “Estamos em estado de alerta da Proteção Civil. E temos um grau ainda superior, de calamidade – que nos permite, por exemplo, instalar cercas sanitárias em torno de uma localidade em que haja um surto particularmente grave e que seja preciso confinar toda a população. O estado de emergência não é decretado em Portugal desde o 25 de novembro de 1975. É uma medida extraordinariamente grave, porque implica a suspensão de um leque que pode ser muito vasto de liberdades, direitos e garantias. As pessoas não têm bem consciência do que é. Não é só confinar as pessoas em casa. Não é só limitar a liberdade de circulação. O Governo pode ter que fazer civil de determinadas profissões que se recusem a trabalhar”, explicou António Costa, lembrando que o desejo do executivo é que “as pessoas tenham consciência da gravidade e que responsável e voluntariamente assumam uma atitude [preventiva]”.
Sobre algumas carências, desde logo materiais, que vêm sendo reportadas junto dos profissionais de saúde, António Costa esclarece que o Governo “tem procurado ir reforçando” as falhas, seja ao nível de máscaras e material de desinfeção, seja ao nível de ventiladores. “Temos 1142 ventiladores para adultos. Mas claro que não estão todos disponíveis. Se tudo decorrer conforme previsto, teremos capacidade de resposta com o material [ventiladores] que estamos a adquirir”, garantiu.
Sobre a situação nos aeroportos nacionais, nomeadamente em Lisboa e Porto, onde os controlos não têm acontecido a quem aterra, António Costa refugia-se no caso italiano para desvalorizar a situação. “O único país que adotou medidas de controlo da temperatura foi a Itália e não foi por isso que evitou a situação em que está. As autoridades de saúde não consideram a medida eficaz nem essencial. Porquê? Porque eu posso sentir-me num estado gripal, tomo um antipirético e não apresento sintomas [à chegada]. E alguém com uma infeção num dente vai apresentar febre – e não estará infetado”, explica o primeiro-ministro.
Por fim, e quando ao impacto do coronavírus na economia portuguesa, António Costa admite que o Governo “está a olhar para o futuro com muita preocupação tendo em conta a incerteza”. “Temos a vantagem de estar numa situação de equilíbrio. Não, já não vamos ter um excedente orçamental. Mas a pancada no défice é o menor dos nossos problemas; o problema é a pancada no emprego. Muitos setores de forte empregabilidade estão a ser fortemente atingidos. Temos que lhes dar a mão. A prioridade é salvar as vidas em risco, mas mantendo as nossas vidas.”