D. José Ornelas e o relatório dos abusos na Igreja: "Situação dramática" que "não é fácil de ultrapassar"
13-02-2023 - 12:15
 • André Rodrigues , Rosário Silva

Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa voltou a exprimir solidariedade com as vítimas e agradeceu o trabalho da Comissão Independente liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht: "trabalharam independentemente... foram essas condições desde o início".

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O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa agradeceu, esta segunda-feira, o trabalho da Comissão Independente que investigou as denúncias de abusos sexuais na Igreja Católica.

“O meu primeiro pensamento vai para as vítimas e o segundo para a Comissão, com um grande agradecimento” pela investigação levada a cabo no último ano, disse D. José Ornelas aos jornalistas.

Para o presidente da CEP, e bispo de Leiria-Fátima, a Igreja não pode ignorar esta “situação dramática” e que “não é fácil ultrapassá-la”.

“Não nos iludíamos sobre o que haveria de ser”, admitiu D. José Ornelas quando confrontado com o teor das conclusões tornadas públicas na manhã desta segunda-feira.

Sem se alongar nas respostas aos jornalistas, a poucas horas de uma conferência de imprensa onde irá reagir ao relatório da Comissão Independente que estudou as denúncias de abusos na Igreja, D. José Ornelas assegurou que “vamos analisá-lo e logo à tarde faremos um comunicado e com direito a algumas perguntas”.

A Comissão Independente validou um total 512 testemunhos de abuso sexual na Igreja Católica nas últimas décadas. O número foi avançado por Pedro Strecht, coordenador desta comissão, na apresentação do relatório final, na Fundação Gulbenkian, em Lisboa.

O pedopsiquiatra revelou que "foram recebidos um total de 564 [testemunhos]. Estes testemunhos, como depois iremos explicar com toda a cautela, permitem chegar a uma rede de vítimas muito mais extensa, calculada num número mínimo de 4.815 vítimas", adiantou.

A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica enviou para o Ministério Público (MP) 25 casos e uma lista de padres abusadores.

Na apresentação do relatório, Laborinho Lúcio sugeriu ainda que o tempo de prescrição dos casos comece a contar mais tarde, a partir dos 30 anos da vítima, em vez dos atuais 23.

D. Francisco Senra Coelho. “Não há tolerância” para os abusos sexuais

Para o arcebispo de Évora, “não há tolerância” para os abusos sexuais no seio da Igreja. D. Francisco Senra Coelho falava aos jornalistas depois de ter assistido à apresentação do relatório.

“Como arcebispo de Évora, não temos nenhum caso pendente, mas ouvi aqui, como todos ouvimos, penso que tem de ser acelerado e radical. Não há tolerância para esse assunto. Não se pode exercer o ministério com esse tipo de comportamentos que são fruto, como ouvimos, de problemas psiquiátricos”, afirmou.

O prelado concorda que se ajude “essas pessoas a tratar-se”, mas lembra que “não podem ser um perigo, predadores,” para a sociedade.

“Não há lugar”, diz de forma categórica. “Queremos uma Igreja segura e que mereça confiança. Queremos que, a partir daqui as nossas escolas, os nossos colégios, os nossos seminários, as nossas igrejas sejam em Portugal os lugares mais seguros para as crianças”.

D. Francisco senra Coelho acredita numa Igreja totalmente segura e diz que “vai acontecer”, acrescentando que “esta realidade de verdade que nós estamos a procurar, como aqui foi provado, fará com que dentro de pouco e já agora, os nossos estabelecimentos, as nossas paróquias, as nossas catequeses, o CNE, os nossos colégios sejam os mais seguros de Portugal. Atenção à lição que também tiramos daqui”.

Questionado sobre se admite que os abusadores, sobretudo os que estão ainda no ativo, devem ser alvo de processos criminais, o arcebispo de Évora é perentório: “Não admito, tem de haver, estamos a falar de crimes. Aqui não há hesitações. Aqui há ações”.

Se foi vítima de abuso ou conhece quem possa ter sido, não está sozinho e há vários organismos de apoio às vítimas a que pode recorrer:

- Serviço de Escuta dos Jesuítas , um “espaço seguro destinado a acolher, escutar e apoiar pessoas que possam ter sido vítimas de abusos sexuais nas instituições da Companhia de Jesus.

Telefone: 217 543 085 (2ª a 6ª, das 9h30 às 18h) | E-mail: escutar@jesuitas.pt | Morada: Estrada da Torre, 26, 1750-296 Lisboa

- Rede Care , projeto da APAV, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, que “apoia crianças e jovens vítimas de violência sexual de forma especializada, bem como as suas famílias e amigos/as”.

Com presença em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Setúbal, Santarém, Algarve, Alentejo, Madeira e Açores.

Telefone: 22 550 29 57 | Linha gratuita de Apoio à Vítima: 116 006 | E-mail: care@apav.pt

- Comissões Diocesanas para a Protecção de Menores . São 21 e foram criadas pela Conferência Episcopal Portuguesa.

São constituídas por especialistas de várias áreas, recolhem denúncias e dão “orientações no campo da prevenção de abusos”.

Podem ser contactadas por telefone, correio ou email.

Para apoiar organizações católicas que trabalham com crianças:

- Projeto Cuidar , do CEPCEP, Centro de Estudos da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica

Se pretende partilhar o seu caso com a Renascença, pode contactar-nos de forma sigilosa, através do email: partilha@rr.pt