“O maior desafio é identificar a fraternidade como o sítio onde podemos encontrar o tesouro que a esperança representa”, disse esta tarde o cardeal D. José Tolentino de Mendonça. E esse tesouro passa por consolidar, em cada um e na sociedade, a “amizade social”.
No encerramento do Congresso missionário 2022 sobre “Fraternidade sem fronteiras”, que decorreu na Universidade Católica em Lisboa, o cardeal português fez uma reflexão sobre “A Fraternidade e a Reconstrução da Esperança” onde defendeu “uma ordem internacional qualificada eticamente, como exercício de responsabilidade, em vez da normalização do egoísmo e da indiferença”.
Neste contexto, a vulnerabilidade deve ser encarada à luz dos textos bíblicos, pois “nunca foi obstáculo para o encontro com Jesus, pelo contrário”, disse Tolentino que citou a escritora Etty Hillesum. “É essa compreensão da vulnerabilidade que pode estar na base de uma sabedoria que nos faça olhar para o presente de maneira diversa”, acrescentou.
O cardeal biblista e poeta também citou o filósofo Zygmunt Bauman para aprofundar o conceito alargado de “nós”, porque “a civilização só avança quando conseguimos alargar as fronteiras da inclusão e regredir a exclusão”.
Tolentino desenvolveu o conceito de “amizade social” proposto pelo Papa Francisco, “como horizonte político, cultural e eclesial necessário para argamassar a esperança que cada ser humano traz no seu coração”. E adiantou que “os heróis do futuro serão aqueles que souberem esquecer a lógica dos seus interesses e se decidam a romper o cerco actual da indiferença, sustentando amigável e universalmente, uma palavra densa de verdade humana”. Deste modo, a amizade social “é uma categoria para enquadrar no âmbito da fraternidade, de uma activa compaixão e da prática comprometida da esperança; e aí, todos podemos fazer mais”, afirmou.
Na sessão da manhã, D. José Ornelas, falou de “Fraternidade e missão”. A partir da sua vasta experiência de missionário, o antigo Superior geral dos Dehonianos refletiu no Congresso sobre a partilha e o anúncio da fé, “como experiência de coerência e compromisso para um mundo melhor”, sobre as “contradições da violência e da imposição religiosa”, ao longo da história e no presente, e ainda sobre “a fé como semente e como missão”.