Vários profissionais juntaram-se esta terça-feira à porta do Hospital São João, no Porto, para pedir melhores condições de trabalho, neste primeiro dia de greve dos médicos. A presidente da Federação Nacional de Médicos (FNAM), presente no local, critica a "intransigência" da ministra da Saúde, Ana Paula Martins, que "não aceita negociar as soluções que são fundamentais e essenciais para ter mais médicos no SNS".
Joana Bordalo e Sá considera que Ana Paula Martins "atirou" os médicos "para esta greve". "Esperemos que haja agora razoabilidade e vontade política de negociar realmente com os médicos para que não continuemos a faltar todos os dias", defende Joana Bordalo e Sá.
A sindicalista afirma que, apesar da vontade da FNAM de estabelecer um protocolo negocial a tutela, não recebeu "nenhuma convocatória de reunião" e promete que "a luta irá endurecer".
A adesão à greve dos médicos, que teve início hoje e se prolonga até quarta-feira, ronda os 70%, com cirurgias e consultas canceladas em várias regiões do país. À Renascença, a presidente da FNAM avança que há "blocos operatórios com imensos constrangimentos, nomeadamente o bloco operatório de Viena do Castelo e de Penafiel, que estão apenas abertos para as cirurgias urgentes".
Mais do que à procura de melhores condições de trabalho, os médicos estão em protesto "por todas as pessoas que precisam do serviço público de saúde", diz Inês Videira.
Médica de família na zona do Porto, Inês teme que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) esteja "em risco" face ao cenário de "falta de recursos físicos e humanos".
"É importante que nos ouçam, porque nós é que estamos no terreno e que trabalhamos e que vemos as dificuldades e que sabemos também quais são as necessidades para prestar melhores cuidados", pede a profissional de saúde.
O mesmo defende Paula Guerra, que trabalha há 30 anos como pediatra no setor público. Durante este período, diz ter visto o SNS "degradar-se", "não conseguindo motivar os seus profissionais a manter-se no setor público".
A pediatra do Hospital de São João critica também a "proposta muito pouco atrativa" do Governo — que quer dar um prémio equivalente a 70% do ordenado a quem trabalhe 240 horas extra por ano.
"Quando nós pedimos uma atualização salarial não é aceitável que nos digam 'então têm que trabalhar mais horas'. Isso é manter-nos igual, trabalhando mais e caindo em burnout", alerta.
Condições que acabam por levar vários profissionais a mudarem-se para o privado. Uma possibilidade já avaliada por Renato Rocha, atualmente a frequentar o internato em Anatomia Patológica no IPO do Porto, que diz no entanto "pretender ficar no SNS". O jovem de 25 anos confessa estar no protesto para defender o "serviço de saúde universal e gratuito para toda a gente" que, à semelhança dos colegas presentes na manifestação, receia que desapareça.
"Eu estou a lutar para que com o SNS tenha as melhores condições para que possa permanecer nele e para que todos os médicos que pretendam permanecer no SNS o possam fazer", completa o estudante.