Como deve um padre agir se dois homossexuais procurarem o baptismo para uma criança que tenham a seu cargo? E se quiserem matricular a criança numa escola católica ou inscrevê-la na catequese?
Com as mudanças legislativas que um pouco por todo o mundo têm consagrado o direito ao casamento e à adopção para pessoas do mesmo sexo, estas e outras são questões que se colocam com cada vez mais frequência e são muitos os que esperam que o sínodo dos bispos, que começa este domingo, apresente soluções ou, pelo menos, orientações.
O padre Bernardo Aranha, da diocese de Lamego, acredita que os bispos não deixarão de o fazer, mas diz também que o Papa já tem dado o exemplo.
“O Papa Francisco tem sido claro e todos temos de levar muito a sério o que ele nos diz. A nossa missão não é dizer às pessoas para saírem da Igreja porque têm problemas. A nossa missão é dizer às pessoas: ‘O senhor tem este problema, vamos olhá-lo à luz de Cristo, vamos olhar para a sua vida à luz de Cristo. O senhor tem esse problema em concreto, outros terão outro, e todos os problemas do homem se resolvem com Cristo’. A receita para o homem é o mistério da Encarnação”, diz.
O padre Bernardo Aranha reconhece que a questão levanta “gravíssimos problemas” do ponto de vista social. “Mas do ponto de vista pastoral parece-me que nos obriga a olhar para este problema da homossexualidade à luz do Evangelho. Portanto, ver nela uma desordem, um afecto desordenado, mas ver nas pessoas que a têm filhos de Deus chamados a ser santos como qualquer outra pessoa. O mundo está cheio de desordens, que Cristo vai resolver”.
“O sínodo é convocado justamente para isso, para marcar as linhas de acção pastoral e ajudar o Papa nessa sua missão, por isso certamente que sim e é um problema realmente complicado. Mas também tem uma dimensão simples, a que o Papa Francisco também apela muitas vezes. Isto é, era o que faltava não baptizar uma criança, desde que os seus pais, como quaisquer outros, se disponibilizem para a educar na fé. Era o que faltava não lhe permitir uma educação cristã.”
O que não significa que não haja ameaças e perigos para a Igreja. “Como há muita propaganda à volta destes temas, há muitos lóbis, corremos o risco de sermos instrumentalizados e usados como propaganda”. O pároco recorre novamente às palavras do Papa Francisco: “Não vai haver nunca uma resposta prudencial muito fácil e talvez o melhor seja reconhecer que é melhor uma Igreja acidentada que uma Igreja paralisada, a cheirar a bafio”.
“Faz bem ver um Papa que abre o coração a esta experiência, para que não nos fechemos e simplesmente nos enclausuremos nas nossas convicções e deixemos de anunciar o Evangelho a quem quer que seja, seja homossexual ou o que for. Mas anunciar o Evangelho”, conclui.
O sínodo dos bispos começa no domingo e decorre até ao dia 25 de Outubro. No final serão apresentadas ao Papa as conclusões dos trabalhos, mas cabe sempre a este qualquer decisão final.
[notícia corrigida às 19h59 de 06/10/2015 - "ver nela uma desordem", em vez de "ver nela não uma desordem"]