Os exames nacionais do Ensino Secundário deviam valer mais para ajudar a corrigir injustiças provocadas por uma “desregulação fortíssima” das classificações internas das escolas. A ideia é defendida pelo investigador Tiago Neves, especialista do Centro de Investigação e Intervenções Educativas, da Universidade do Porto.
“Tem de haver, provavelmente, uma maior preponderância dos exames nacionais no acesso ao Ensino Superior”, reforça, em entrevista à Renascença, a propósito da publicação dos rankings das escolas.
Na divulgação dos dados, verifica-se que a classificação interna das escolas, públicas e privadas, é quase quatro valores acima da média dos exames nacionais. Trata-se de uma tendência que já vem de anos anteriores e que Tiago Neves não compreende como continua a ser tolerada.
“Estamos a falar do futuro dos jovens, do futuro do país. Muito sinceramente, não compreendo como é que se convive pacificamente com isto.”
Nesse sentido, e apesar de dizer que “não é um grande defensor dos exames enquanto instrumento de avaliação”, por considerá-los limitados, defende um aumento da preponderância dos exames nacionais no cálculo da nota para acesso ao Ensino Superior.
Atualmente, estas provas valem pelo menos 35%. Questionado sobre quanto deveriam passar a valer, Tiago Neves prefere não avançar uma percentagem, reconhecendo que seria preciso fazer um estudo prévio sobre esta matéria.
Sanções mais duras para escolas que inflacionam notas
Para ilustrar o cenário de notas inflacionadas, Tiago Neves remete para dados de 2021 que reportam quer a escolas privadas, quer a escolas públicas.
“Na média geral, nas disciplinas sem exame associado, há 52% de classificações internas iguais ou superiores a 18 valores. Quando há exame associado às disciplinas, esse valor desce para 15,6%. Passamos de 52 para 15,6. Vê-se aqui bem o poder regulador do exame”, argumenta.
O especialista admite que pode haver algum fenómeno que justifique a inflação de notas num ou outro ano, mas defende que as escolas que persistem nesta prática devem ser sancionadas.
“Uma escola que, durante dois anos consecutivos, tenha classificações internas anormalmente elevadas quando comparadas com as notas dos exames nacionais, ao terceiro os seus alunos só poderiam concorrer ao Ensino Superior com as notas dos exames nacionais”, sugere.