A condenação do antigo Presidente brasileiro Lula da Silva tem por base um "quadro probatório suficiente", num misto de delação premiada e provas independentes, afirmou o ministro da Justiça e Segurança Pública do Brasil, Sérgio Moro.
O juiz responsável pela “Operação Lava Jato” está em Lisboa para analisar e debater
assuntos sobre o combate à criminalidade organizada e à corrupção e, na manhã desta segunda-feira, no Fórum Jurídico de Lisboa, fez declarações sobre a prisão do ex-Presidente brasileiro Lula.
"Foi condenado por mim em primeira instância, mas a sentença foi confirmada em recurso pelo Tribunal Federal e a prisão foi autorizada pelo Supremo Tribunal Federal. Existe todo um quadro probatório suficiente para aquela condenação", garantiu.
Sérgio Moro considerou que a delação premiada é um "método relevante" na investigação dos crimes de grande corrupção que envolvem figuras poderosas, adiantando, contudo que tem que ser sempre apoiada por provas independentes.
Citando os processos Mensalão e Lava Jato, Moro apontou que "em parte" estes casos "tiveram por base delações premiadas, mas também provas de outra natureza".
Segundo o ministro, “tudo o que o criminoso diz, mesmo em colaboração, precisa de ter apoio em provas independentes. Foi o que foi observado no Brasil”.
Durante a sua intervenção em Lisboa, o ministro tinha apontado "dificuldades institucionais" tanto em Portugal como no Brasil para fazer avançar este tipo de processos, dando como exemplo a Operação Marquês, que envolve o antigo primeiro-ministro José Sócrates.
"O que observo à distância é que há um trabalho, têm sido feitos esforços consideráveis para o apuramento de provas e para processar, mas, segundo algumas autoridades portuguesas com quem falei, não há previsão de término desse processo", disse aos jornalistas.
Sérgio Moro considerou, por outro lado, que o panorama da justiça brasileira mudou nos últimos cinco ou seis anos, já com resultados visíveis a nível institucional.
"O que tínhamos no Brasil antes do Mensalão e da Lava Jato é que esses grandes casos de corrupção, muito embora muitas vezes provados, com provas extremamente robustas, nunca tinham as consequências extraídas pela justiça", disse.
"Hoje vê-se que pessoas que cometeram esses crimes e ocupavam elevadas posições na administração pública ou até no parlamento estão a cumprir pena. Foi um avanço institucional", acrescentou.
Sérgio Moro foi o juiz responsável pela condução da Operação Lava Jato, que desvendou grandes esquemas de corrupção na estatal petrolífera brasileira Petrobras, e pela prisão de empresários, ex-funcionários públicos e políticos de renome, como o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O VII Fórum Jurídico de Lisboa decorre até quarta-feira e tem como convidados vários governantes portugueses e brasileiros, além de juristas, académicos e investigadores na área judicial.