Quanto vai custar a Caixa? Governo ainda não diz
22-06-2016 - 15:49
 • Paulo Ribeiro Pinto

Ministro das Finanças chamou os jornalistas, mas não revelou a verba da recapitalização. A estratégia prevê uma diminuição da actividade internacional do banco, com um enfoque reforçado em África.

O ministro das Finanças apresentou esta quarta-feira algumas linhas do plano de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos (CGD). Mário Centeno não revelou, porém, o valor da recapitalização.

As necessidades de capital estão ser discutidas com a Comissão Europeia “num debate profícuo”, disse apenas. Parte das necessidades de capital será para a cobertura de imparidades, acrescentou.

A Renascença apurou que o valor em cima da mesa para a recapitalização da Caixa é de 5,1 mil milhões.

Para Centeno, a CGD deve ser diferente dos outros bancos. A estratégia do Governo passa por manter a liderança no mercado doméstico, aumentar a eficiência operacional e simplificar a estrutura do Grupo CGD. O executivo quer ainda reforçar os níveis de capital do banco e reforçar o modelo de gestão de risco e de “governance”.

A estratégia prevê também uma diminuição da actividade internacional do banco, com um enfoque reforçado em África.

O novo modelo de gestão da CGD entrará em funções em Julho. Centeno prevê que o banco público regresse aos resultados líquidos positivos "em breve" e acrescenta que este investimento deverá trazer um retorno "adequado" durante os próximos cinco anos.

O plano prevê ainda uma redução dos recursos da CGD, através do fecho de agências e de um “plano alargado” de pré-reformas.

Quanto aos membros executivos e não-executivos propostos para a administração da Caixa, Mário Centeno afirma que estes nomes serão "muito proximamente apresentados".

Números? "Prematuro"

O total de capital a investir na Caixa deve fazer face a 900 milhões de euros em obrigações, informou o ministro das Finanças, e quaisquer necessidades adicionais de capital decorrem dos resultados dos testes de stresse e da necessidade de provisionar uma almofada ("buffer") de capital para face a riscos futuros.

Centeno insistiu ser "prematuro avançar com números" numa altura em que as negociações com as autoridades estão ainda a decorrer.

"É importante permitir que a negociação com as autoridades, quer de regulação quer de supervisão, ocorra num ambiente de tranquilidade. O sucesso dessas negociações resultará na classificação deste processo de capitalização, quaisquer os montantes em causa como um processo realizado em condições de mercado, como um investimento, e decorrerá dessa caracterização o impacto no défice e na dívida", clarificou o ministro, na resposta às perguntas dos jornalistas.

A quantia apurada pela Renascença de 5,1 mil milhões de euros abarca o reforço de capital que a instituição terá de fazer para respeitar as regras europeias, a cobertura de créditos malparados e o programa de reestruturação do banco.

Apesar de não prever despedimentos, está prevista a saída de 2.500 trabalhadores através de processos de reforma ou de rescisões amigáveis. A CGD fechou o ano com 16.058 trabalhadores, mais de metade dos quais a trabalhar fora de Portugal.

Haverá ainda a necessidade de fechar 300 balcões, a maioria no estrangeiro, ou seja, um quarto das actuais 1.253 dependências bancárias.

A maior fatia dos 5,1 mil milhões será para a cobertura de crédito malparado, que, na semana passada, o "Correio da Manhã" revelou, citando uma auditoria ao banco, estar orçado em 2,3 mil milhões de euros.