Estado da Nação. Portugal ao "raio X"
21-07-2021 - 06:30
 • Sandra Afonso

A radiografia de Portugal, em contagem decrescente para o debate do Estado da Nação, em sete pontos chave: turismo, crescimento, défice e dívida, endividamento público, famílias, desemprego e exportações.

No segundo ano da pandemia, Portugal ainda não resolveu a crise sanitária nem a crise económica. O governo mantem o otimismo, mas Bruxelas já adiou a convergência para 2022. Os apoios estatais evitaram números piores, como no desemprego, mas a mão do Estado, mais tarde ou mais cedo, é retirada.

A radiografia de Portugal, em contagem decrescente para o debate do Estado da Nação, em sete pontos chave: turismo, crescimento, défice e dívida, endividamento público, famílias, desemprego e exportações.

TURISMO continua no "vermelho"

Nem o verão conseguiu animar a atividade turística. Continua a ser um dos sectores mais castigados pela pandemia.

Nos primeiros cinco meses, o número de passageiros movimentados nos aeroportos nacionais caiu 63,6%, segundo o Instituto Nacional de Estatística (-56,5% no período homólogo de 2020; +6,9% no mesmo período de 2019)”.

As receitas da atividade turística chegaram em maio aos 531 milhões, uma recuperação face a maio de 2020, mas, em comparação com 2019, este número representa uma queda de quase 66%. Ainda segundo dados do Banco de Portugal (BdP), entre janeiro e maio deste ano, as receitas desta atividade somaram 1.700,73 milhões de euros, quando antes da pandemia chegavam a 5.818,14 milhões de euros.

A abertura do corredor, por parte do Reino Unido, fez toda a diferença em maio, permitiu chegar a um milhão de hóspedes e 2,1 milhões de dormidas no alojamento turístico (INE). Mas a "torneira" voltou a fechar-se e continua rodeada de incerteza.

O ENDIVIDAMENTO de todos nós

A pandemia obrigou o Estado a pedir mais dinheiro emprestado.

O endividamento do Estado subiu cerca de 17,3 mil milhões de euros em 2020, face a 2019. No final do ano passado, a dívida global ultrapassava 268 mil milhões de euros, segundo a Conta Geral do Estado 2020. Grande parte deste dinheiro foi para a Saúde e apoios sociais e às empresas.

Já em 2021, a dívida do Estado aumentou 2377 milhões até abril, face a igual período do ano anterior. Nos primeiros quatro meses do ano, o Estado teve de se financiar em cerca de um terço do valor previsto para o ano todo.

Cada FAMÍLIA sente a pandemia à sua maneira

Confinados em casa, os portugueses trocaram o consumo pela poupança. Com medidas como o lay-off simplificado, muitos conseguiram evitar o desemprego e manter os rendimentos, mas também não tinham despesas com transportes, cafés ou restaurantes.

A taxa de poupança disparou para mais de 22%, no segundo trimestre de 2020. O BdP estima que entre 2020 e 2023 as famílias juntem mais 17,5 mil milhões de euros do que iriam poupar sem a actual crise pandémica.

O lado B desta equação é que com os juros historicamente baixos esta poupança é dinheiro parado que não está a ser rentabilizado. Os depósitos bancários das famílias atingiram em maio o valor recorde de 166,7 mil milhões de euros.

Apesar desta poupança e da economia estar em crise, as famílias continuam a pedir dinheiro à banca. Até maio os bancos já tinham emprestado quase 6 mil milhões, só para compra de casa.

Enquanto isso, há clientes a renegociar empréstimos, ou porque foram apanhados pelas malhas da crise ou porque accionaram moratórias que, entretanto, terminaram ou terminam agora em setembro. Uma situação que afecta famílias e empresas, mas os negócios mais afectados pela pandemia já têm apoio garantido pelo Estado.

O (DES)EMPREGO

Há menos desempregados inscritos, em junho caíram para 377.872, o valor mais baixo desde março de 2020. Isto representa um recuo de 7,1% no mês passado, em termos homólogos, e 6% face a maio, segundo dados divulgados esta terça-feira pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP).

Já o INE (estimativas provisórias mensais), aponta para uma taxa de desemprego (16 a 74 anos), ajustada de sazonalidade, de 7,2% em maio, mais 0,2 pontos percentuais do que em abril (6,8% em fevereiro e 6% em maio de 2020).

Destaque ainda para a nova taxa de subutilização do trabalho, os inativos disponíveis, mas que não procuram emprego (16 a 74 anos), uma realidade que ganhou peso com a pandemia. Em maio esta taxa situou-se nos 12,8% (12,9% em abril e 14,9% no período homólogo de 2020).

EXPORTAÇÕES a várias velocidades

As exportações de produtos alimentares e de bebidas foram as únicas a aumentar em 2020 e vão continuar a aumentar este ano, segundo um inquérito publicado este mês pelo INE.

As vendas ao exterior deverão ser impulsionadas pelo mercado interno europeu e pela procura externa à UE. No entanto, nem todos os sectores reagem da mesma forma, exemplo disso é o impacto da falta de semicondutores no mercado internacional, que está a afectar o comércio e a produção industrial.

A chamada crise dos chips fez cair a produção automóvel no país em 29,5% em junho, face ao mês homólogo (- 43,6% face a junho de 2019), segundo a ACAP.

Excluindo combustíveis e lubrificantes, em maio as exportações subiram 48,9% e as importações aumentaram 42,3%, também menos do que em abril (81,8% e 61,1%, respectivamente), diz o INE.

CRESCIMENTO adia convergência

Bruxelas manteve no início do mês as previsões de crescimento para Portugal inalteradas, para este ano e o próximo, em 3,9% e 5,1%, respetivamente. Ou seja, não alterou as previsões da primavera, o que adia para 2022 a convergência do país. Porquê? Devido às medidas restritivas recentemente tomadas, ao aumento do número de casos de covid-19 e à crise no setor do turismo.

Segundo o INE, a economia contraiu no primeiro trimestre de 2021 por causa do segundo confinamento. Em termos homólogos, a queda foi de 5,4%.

O governo mantem-se otimista e prefere destacar outros números. Esta terça-feira o primeiro-ministro, António Costa, assinalou que o primeiro trimestre foi o melhor em termos de investimento empresarial privado, desde 1999. Repetiu ainda as previsões do Ministro das Finanças, que Portugal deverá crescer 9% entre 2021 e 2022.

Teremos novo DÉFICE zero?

O excedente de 0,2% alcançado por Mário Centeno parece mentira. O défice é de novo tão alto que nem um saldo equilibrado chega às previsões a cinco anos.

O governo estima um défice de 4,5% do PIB este ano, um valor revisto em baixa em abril, com o Programa de Estabilidade. Segundo as previsões do executivo, o buraco das contas deverá continuar a descer: para 3,2% em 2022; 2,2% em 2023; 1,6% em 2024; e 1,1% em 2025.

Quanto à dívida pública, o executivo espera chegar aos níveis pré-pandemia, abaixo de 120% do PIB, em 2024. A dívida pública deverá cair para 128% até ao final do ano e chegar a 123% no próximo.