O ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, admite o apoio de Portugal a Moçambique face à situação no Norte do país e dos grupos armados, mas isso depende de um pedido do Governo de Maputo.
“Não existe na União Europeia (UE) e na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) qualquer ideia de uma intervenção de apoio, mas isso poderá vir a justificar-se se houver impulso nesse sentido da parte do Governo de Moçambique”, afirmou João Gomes Cravinho numa audição na comissão parlamentar de Defesa.
Na comissão, três deputados, do CDS (João Gonçalves Pereira), PS (Manuel Afonso) e PSD, colocaram perguntas sobre a “situação complexa” em Moçambique e questionaram, pela segunda reunião consecutiva, o ministro sobre a posição portuguesa.
“Logo que possível”, afirmou, o ministro irá a Moçambique “com essa preocupação em mente”, além de outros pontos na agenda, e Portugal tem “a disponibilidade para apoiar, na medida que os moçambicanos considerem que é possível”.
E “poderá incluir o apoio diplomático” a Moçambique “no seio da UE e CPLP”, concluiu.
Como já fizera na reunião da comissão, em maio, o ministro português da Defesa afirmou que a situação no Norte de Moçambique “é delicada”.
Há, descreveu, “um envolvimento muito significativo de forças jihadistas, que estão a aproveitar-se das fragilidades da capacidade de resposta do Estado [moçambicano] e das conflitualidades que existem na região de Cabo Delgado e que têm sido intensificadas em função da descoberta de petróleo e gás na costa”.
Outra questão fundamental, para o ministro é o “profundo respeito pela soberania” de Moçambique e que “qualquer iniciativa ou proposta”, “qualquer desenho” de apoio internacional tem de ter “com a liderança” do Governo de Maputo.
O ministro João Gomes Cravinho recordou que o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, já disse ser “importante ter o apoio de parceiros internacionais, sem pormenorizar”.
Na reunião anterior, em maio, e face a ataques de alegados grupos alegadamente associados ao Estado Islâmico, o ministro foi cuidadoso ao dizer que “aquilo que se passa no norte de Moçambique não tem ainda contornos muito claros".
Em janeiro, pouco depois de tomar posse como ministro da Defesa, Jaime Neto pediu aos moçambicanos "confiança" na capacidade das forças de defesa e segurança no combate aos ataques armados nas regiões Centro e Norte de Moçambique.
Cabo Delgado, região onde avançam megaprojetos para a extração de gás natural, vê-se a braços com ataques de grupos armados classificados como uma ameaça terrorista e que já provocaram a morte de, pelo menos, 550 pessoas em dois anos e meio.
Em 15 de maio, o ministro do Interior de Moçambique, Amade Miquidade, disse que as forças de defesa e segurança moçambicanas foram obrigadas a adaptar a sua estratégia e meios para enfrentarem os grupos armados que atacam no Norte do país.
No Centro de Moçambique, desde agosto do ano passado, ataques armados atribuídos à Junta Militar da Renamo têm visado forças de segurança e civis em aldeias e nalguns troços de estrada da região, tendo causado mais de 20 mortos e vários feridos, além da destruição de veículos.