O presidente da Iniciativa Liberal defendeu hoje que deve ser atribuído à Ucrânia "sem hesitação" o estatuto de país candidato à União Europeia e lamentou que a posição portuguesa tenha sido "menos clara". .
"Reforçámos ao primeiro-ministro o que, desde a primeira hora, temos dito. Para a IL, a União Europeia é um espaço de afirmação político e de valores. O sinal que tem de ser dado nesta altura, e que a Ucrânia tanto precisa, é que o estatuto de candidato deve ser atribuído sem hesitações", defendeu João Cotrim Figueiredo.
O presidente da IL falava aos jornalistas na residência oficial do primeiro-ministro, depois da reunião com António Costa e com o secretário de Estado dos Assuntos Europeus Tiago Antunes, que estão a receber os partidos com representação parlamentar para preparar o Conselho Europeu da próxima semana, em que se discutirão as candidaturas à adesão à União Europeia da Ucrânia, República da Moldova e Geórgia.
Por outro lado, o líder da IL lamentou que a posição portuguesa "tenha sido menos clara e que só depois da visita de três líderes europeus [a Kiev] se tenha tornado mais clara", referindo-se à deslocação do presidente francês, Emmanuel Macron, do chanceler alemão, Olaf Scholz, e do primeiro-ministro italiano, Mario Draghi.
Acompanhado pelo líder parlamentar do partido, Rodrigo Saraiva, o presidente da IL frisou, contudo, que a concessão do estatuto de candidato à Ucrânia "não garante a adesão no fim do período de negociação".
"Neste momento, em que estamos em guerra, é essencial que o sinal geopolítico seja dado, tudo o resto são temas importantes, mas que não devem confundir nem mitigar este sinal", apontou.
Cotrim Figueiredo disse que, "sem menosprezar riscos" de uma futura adesão da Ucrânia, não existe, neste momento, "espaço para ambiguidade estratégica na União Europeia".
"Foi a ambiguidade estratégica da UE que contribuiu, em parte, para o descaramento da Rússia", afirmou.
Questionado se, neste momento, o primeiro-ministro lhe parece menos ambíguo, o presidente da IL não respondeu diretamente.
"Eu acho que o senhor primeiro-ministro está a misturar os vários planos, a UE é um espaço de comunhão de valores e princípios. Estes valores vêm, para nós, antes de quaisquer outros", apontou.
Cotrim Figueiredo disse ainda que aproveitou o encontro para desafiar o primeiro-ministro a estar presente numa iniciativa da Comissão parlamentar de Assuntos Europeus a realizar, no outono, sobre as conclusões da conferência sobre "O Futuro da Europa".
"Para nosso agrado, o primeiro-ministro disse que teria todo o interesse em estar", afirmou, depois de a IL ter, por várias vezes, instado o primeiro-ministro a marcar presença nesta comissão parlamentar, uma vez que António Costa tutela os Assuntos Europeus.
A Comissão Europeia recomendou hoje ao Conselho que seja concedido à Ucrânia o estatuto de país candidato à adesão à União Europeia (UE), emitindo parecer semelhante para a Moldova, enquanto para a Geórgia entende serem necessários mais passos.
Menos de uma semana após o início da invasão pela Rússia, a 24 de fevereiro, a Ucrânia apresentou formalmente a sua candidatura à adesão, e, no início de abril, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, entregou em mão, em Kiev, ao Presidente Volodymyr Zelensky o questionário que as autoridades ucranianas entretanto preencheram e remeteram a Bruxelas, aguardando agora ansiosamente pelo "veredicto" europeu.
Na terça-feira, por ocasião de uma deslocação a Haia, António Costa insistiu que aquilo de que a Ucrânia mais precisa agora é de respostas imediatas e práticas, e não de questões legais e jurídicas relacionadas com o processo de adesão ao bloco europeu, necessariamente moroso, o que pode criar frustração.