António Horta Osório lança um apelo ao sentido de Estado dos intervenientes no processo de formação do novo Governo. Em entrevista à Renascença, o presidente do banco Lloyds, de Inglaterra, diz-se apreensivo com a possibilidade de uma solução governava baseada na extrema-esquerda.
"Vejo com muita apreensão esta situação, como português e com a preocupação crescente que vejo na Europa sobre este assunto", confessa o banqueiro português mais influente no estrangeiro, ouvido no programa Conselho de Directores. "A minha apreensão resulta do facto de duas semanas após as eleições estarmos numa enorme indecisão e incerteza sobre qual vai ser a direcção das políticas económicas para o futuro. À medida que esta situação continue sem se resolver, essa confiança pode começar a ser minada. E podemos ter soluções muito complicadas em termos de confiança interna e externa."
Nesta conversa na Renascença, com a participação de Pedro Santos Guerreiro, Raquel Abecasis e Henrique Monteiro, o gestor português fez uma defesa cerrada da necessidade de estabilidade política na nova legislatura.
"É essencial para Portugal. E foi nisso que os portugueses votaram. A estabilidade política é crítica para haver confiança dos investidores internos, empresários e investidores externos, sendo nós ainda muito dependentes de financiamento e investimento externa. Além disso, parece-me que o país está a melhorar, a ir na direcção correcta. Seria gravíssimo desbaratar aquilo que foi arduamente conquistado pelos portugueses", afirma Horta Osório .
Não à extrema-esquerda
Sublinhando não ser um comentador politico, Horta Osório considera que os portugueses quiseram a continuidade do rumo económico. Nessa medida, pensa o banqueiro, não faz sentido outra solução governativa que não passe por PSD, CDS e PS.
"O país votou claramente pela continuação das políticas que estavam a ser seguidas, ao nível da sua direcção. Normalmente, quem ganha governa. Mas o país também votou para que os três partidos, PSD, CDS e PS tivessem cerca de 70% dos votos expressos. Uma esmagadora maioria que associo à estabilidade de que falava - e têm cerca de 85 % dos deputados. Parece-me que o sentido dos votos dos portugueses é de que seja claramente dentro destas três forças políticas que se encontre uma solução de governo estável para a frente", sublinha o presidente executivo do grupo Lloyds no Reino Unido.
Confrontado com a natureza minoritária da coligação PSD/CDS no novo Parlamento, Horta Osório fala na necessidade de um consenso com o PS.
"Obviamente que quando não se ganha com maioria absoluta tem que se gerar um consenso. 70% dos portugueses votaram nesse consenso, foi o resultado democrático das eleições", sustenta Horta Osório que avisa para os perigos de uma solução com recurso à esquerda do PS.
"Acho realmente muito preocupante que se possam colocar me campo outro tipo de soluções que, pelos programas dos partidos de extrema-esquerda, são contra o euro, contra a Europa, contra vivermos dentro das nossas posses, são para não pagarmos as dividas. Tudo isso foram sacrifícios que os portugueses fizeram com enorme estoicismo. Depois de serem feitos, estarmos agora a viver todos, como país, dentro das posses, o país vai melhorar, está a melhorar", assegura o banqueiro.
"Ainda não há contágio"
A palavra-chave da estabilidade é "confiança". Confiança que um governo estável possa fornecer aos investidores internos e externos, insiste Horta Osório.
"Espero sinceramente que quem tenha maior responsabilidade no processo ponha o país à frente de quaisquer interesses pessoais ou políticos", afirma. Horta Osório reconhece ainda assim que não há - para já - ainda grandes ondas de choque nos mercados financeiros em resultado deste impasse em Portugal.
"Houve apenas pequenos sobressaltos ao nível da divida pública. Portugal não está no centro das atenções. Vários contactos internacionais e pessoas do Governo inglês perguntaram-me mas estamos no começo. É mais importante prevenir que remediar", repete.
Pagar mais electricidade em Lisboa do que em Londres
O banqueiro considera que foram feitas reformas recentes "muito importantes" na administração pública, em termos fiscais e na saúde.
Convidado a elencar um conjunto de reformas estruturais a desenvolver nos próximos tempos, Horta Osório destaca a necessidade de um maior ambiente concorrencial. "Portugal é um país ainda pouco exposto à concorrência. A concorrência estimula a qualidade, baixa os preços para o consumidor. Temos que melhorar a capacidade dos reguladores", indica o gestor português que trabalha na City londrina.
Outra medida urgente é a baixa da factura energética. "Temos que assegurar que a baixa do preço do petróleo e das energias associadas se reflecte realmente no bolso dos consumidores. Vivendo entre Londres e Lisboa, as minhas contas de energia ou telefone são, em termos equivalentes, muito maiores em Portugal do que em Londres, onde há enorme concorrência. E temos que fazer reformas estruturais em termos da melhoria da formação e treino dos nossos jovens."