Isabel Teixeira tem 50 anos, é assistente operacional e não tem tempo a perder. Todos os dias, recebe as crianças à porta da Escola EB1 do Bonfim, na Guarda, numa rotina de múltiplas tarefas.
“Faço um bocadinho de tudo. Estou mais ligada à biblioteca, mas faço tudo o que for preciso: limpeza, acompanhamento das crianças, estamos sempre disponíveis”, revela, observando que “as crianças são muito irrequietas, há muitos conflitos no intervalo”.
Há 26 anos que é assistente operacional e em 2008 tentou mudar de vida. Terminou a licenciatura em Educação de Infância, sem nunca deixar o trabalho, mas o sonho continua por concretizar e o salário também – ganha pouco mais do que o ordenado mínimo, 700 euros, longe do que ganharia se estivesse a trabalhar como educadora de infância.
“No início de carreira, penso que uma educadora pode ganhar 1.100 euros, mas está tudo lotado e eu nunca troquei o certo pelo incerto. Tenho dois filhos a estudar fora, ainda concorri várias vezes, mas sem tempo de serviço é quase impossível arranjar emprego na área”, admite a assistente operacional, que lamenta ainda a desvalorização da classe.
“Claro que não é a mesma coisa, nem em termos de salário nem em termos de valorização profissional; é bastante complicado”, assume, descrevendo as despesas mensais: “temos empréstimo, mais deslocações dos filhos, as propinas, é uma ginástica grande até ao final do mês e o que vale é que temos os produtos agrícolas da aldeia, onde vivem os meus pais e trazemos o que é necessário. Isso já é uma grande ajuda”, garante.
"Gosto muito do que faço"
Ainda assim, Isabel Teixeira dirige o maior o sorriso à profissão de assistente operacional. “Gosto muito do que faço, estou em contacto com crianças e o essencial é sentirmo-nos felizes com o que fazemos. Não estou a exercer a minha profissão, mas faço o que gosto”, considera, alertando, todavia, que gostava de ver mais reconhecimento do trabalho que faz. “Faço com gosto, mas gostava que fosse reconhecido e fica um pouco aquém do que pretendemos”.
Com grau académico, a assistente operacional não fica a moer no passado ou nas trocas da vida. Há apenas um pensamento que a acompanha ao sair de casa: “quero que tudo corra bem e que consiga satisfazer as crianças e que elas sintam felizes em ambiente escolar”, conclui.