Referendos no Donbass "são contraproducentes" para Ucrânia e Ocidente, avisa Martins da Cruz
20-09-2022 - 23:45
 • João Malheiro

O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros explica que se os referendos significarem que os territórios do Donbass vão passar a fazer parte da Federação Russa, implica "que pode utilizar o armamento que quiser para se defender".

O embaixador António Martins da Cruz avisa que a realização dos referendos "são contraproducentes" para a Ucrânia e para o Ocidente e concorda com a NATO, ao considerar que esta iniciativa do Kremlin pode significar uma escalada da guerra.

Os territórios separatistas pró-russos da região do Donbass, na Ucrânia, vão realizar, de 23 a 27 de setembro, referendos para decidirem sobre a sua anexação pela Rússia, anunciaram as autoridades locais esta terça-feira.

Em reação, ouvido pela Renascença, o diplomata português acredita que decisão surge agora "para compensar na perspetiva internacional, as derrotas que a Rússia está a ter".

O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros explica que se os referendos significarem que os territórios do Donbass vão passar a fazer parte da Federação Russa, implica "que pode utilizar o armamento que quiser para se defender".

"Passa a ser uma defesa do território russo. Pode implicar, por exemplo, armas químicas ou nucleares táticas, para defender estes territórios", sublinha.

António Martins da Cruz rejeita também que o Ocidente venha alguma vez a reconhecer a legitimidade dos resultados dos referendos.

Vladimir Putin deverá falar esta quarta-feira às 06h00 em Portugal (08h00 em Moscovo) sobre os referendos convocados para as repúblicas separatistas de Donetsk e Lugansk.

A indicação foi avançada na noite desta terça-feira pelo jornalista russo Dmitry Smirnov, sem grandes detalhes, isto depois de fontes do Kremlin terem indicado, ao longo desta terça-feira, que o Presidente russo faria uma declaração ao país às 18h00, em Portugal, mais duas horas em Moscovo.

À Renascença, o embaixador português admite que esta mudança pode ter a intenção de "despertar a curiosidade dos média e dos líderes que se encontram nas Nações Unidas".

"Se só falar às 06h00 da manhã cá, vai falar quando for meia noite ou 01h00 da manhã em Nova Iorque. No fundo, é para provocar algum sentimento de expetativa", aponta.