A Venezuela registou uma taxa de inflação de 17,3% em agosto, o valor mais alto dos últimos 12 meses, segundo dados divulgados hoje pelo Observatório Venezuelano de Finanças (OVF).
A inflação de agosto foi de 17,3%, a maior variação de preços nos últimos 12 meses, acelerando a inflação interanual (homóloga) para 153%, e com um acumulando de 90% ao longo de este ano", explica um relatório divulgado em Caracas.
Segundo o OVF, "a aceleração da inflação durante agosto tem a ver com a expansão da despesa pública, o aumento da liquidez monetária em mais de 15%, que levou a uma desvalorização de 36% da taxa de câmbio durante esse mês".
"Isto sugere que se podem esperar aumentos de preços mais elevados nos meses seguintes, uma vez que o efeito total da desvalorização é absorvido através dos preços", sublinha.
O OVF explica ainda que "o valor do cabaz alimentar em agosto de 2022 atingiu 371 dólares (374,57 euros), mostrando um aumento de 21,66% em relação ao ano anterior e um decréscimo de 5,23% em relação a julho de 2022".
"Em relação ao salário mínimo médio de 16 dólares (16,11 euros) em agosto, observa-se que os salários estão significativamente atrasados em relação ao custo do cabaz alimentar. Na realidade, o salário mínimo apenas cobre 4,3% do valor do cabaz alimentar", sublinha o OVF.
Segundo o relatório, os artigos que registaram os maiores aumentos foram roupa e calçado (23,9%), lazer (23,6%), bebidas alcoólicas e tabaco (22,7%), restaurantes e hotéis (22,6%) e educação (22,2%).
Por outro lado, a inflação em bens e serviços diversos foi de 22,1%, seguindo-se o aluguer de habitações (20,9%), saúde (20,1%), transporte (19,5%), alimentos e bebidas não alcoólicas (15,6%), comunicações (9,4%), equipamento para o lar (8,0%) e serviços diversos (4,8%).
Segundo o OVF, em agosto de 2021 a inflação na Venezuela foi de 10,6%, em setembro desse mesmo ano 9,7%, em outubro 8,1%. Os meses de novembro e dezembro do ano passado registaram 6% de inflação ambos.
Quanto a 2022, janeiro registou 4,8%, fevereiro 1,7%, março 10,5%, abril 3,6%, maio 10,1%, junho 14,5% e julho 5,3%.
A imprensa local tem dado conta de que a insegurança e a crise política económica e social têm obrigado os cidadãos a migrarem para o estrangeiro, ascendendo, segundo dados recentes da ONU, a 6,81 milhões os venezuelanos que abandonaram o seu país nos últimos anos.
Está ainda a aumentar a migração de cidadãos dentro da Venezuela, em particular para o Distrito Capital (Caracas) e os vizinhos estados de Miranda e La Guaira, mas também para as minas de Bolívar, no sul do país.
Segundo a Câmara de Comércio de Lara, "o maior incentivo para migrar para Caracas é que as empresas pagam mais e um profissional, ao receber em média 500 dólares [o salário mínimo local é de 30 dólares], pode comprar o cabaz alimentar familiar".
O agravamento de serviços como água potável e eletricidade, a falta de empregos e oportunidades e a escassez de gasolina, forçaram a uma movimentação maior de profissionais e famílias inteiras a migrar para a capital, segundo Alexander Campos, diretor do Centro de Investigações Populares, ONG que prevê que no último trimestre de 2022 aumente o êxodo de venezuelanos para o estrangeiro.