O Centro Espacial de Wenchang lançou, no domingo, um foguetão de 10 andares e 23 toneladas para o espaço, e não há conhecimento do local e do momento em que cairá no regresso à Terra.
Este lançamento, que foi a terceira viagem do foguetão Long March 5B, transportou o laboratório espacial Wentian. O objetivo é a expansão das capacidades de pesquisa da estação espacial chinesa Tianhe.
O desconhecimento do destino final dos detritos do foguetão está a causar polémica entre os especialistas espaciais. Apesar de reconhecerem a baixa probabilidade de os destroços caírem em zonas habitadas, não excluem a hipótese.
Bill Nelson, administrador da agência espacial norte-americana NASA, acusa os chineses de não assumirem “uma postura responsável perante os detritos espaciais”.
Em resposta às acusações, Hua Chunying, representante do Governo chinês, considera que os Estados Unidos e outros países se têm preocupado excessivamente com a situação.
“Até à data, não há registo de danos causados pelos detritos caídos. Tenho visto relatórios desde o lançamento do primeiro satélite feito pelo Homem, há mais de 60 anos, e nem um único detrito caiu em cima de uma pessoa. Os especialistas americanos reconhecem que a probabilidade é menor que uma num milhão”, defende.
No entanto, já ocorreram situações perigosas envolvendo lixo espacial. Em 2020, o foguete teve como destino final a Costa do Marfim, tendo causado vários danos materiais.
Em 2021, os detritos da viagem espacial caíram perto das Maldivas, no Oceano Índico. Não foram registados quaisquer danos.
O Governo chinês reconhece que as missões espaciais são um prestígio nacional, e recusa-se a responder a questões sobre o assunto.
Em declarações ao jornal "The New York Times", o astrónomo norte-americano Jonathan McDowell, do Centro de Astrofísica da Universidade de Harvard, admite que existe uma possibilidade de que o foguetão chinês tenha sido melhorado “para controlar a descida”, mas não deposita muita esperança nesse cenário.
De acordo com o astrónomo, se o foguete não sofreu alterações então não existem propulsores para sua descida controlada rumo à Terra. Desta forma, toneladas de destroços deverão “sobreviver” à viagem pela órbita do planeta, “o que poderá significar uma reentrada descontrolada num local desconhecido”, explica.
Estatisticamente, é provável que os detritos caiam no mar, considerando que os oceanos ocupam mais de 70% da superfície do planeta.
Para assistir ao lançamento do foguetão Long March 5B, no domingo, multidões de curiosos dirigiram-se até à praia mais próxima, na ilha Hainan, a sul do país. Outros, subiram até ao topo de edifícios.
Zhang Jingyi, de 26 anos, montou a sua câmara no terraço de um hotel, onde se encontravam mais de 30 pessoas. Fez a reserva no hotel com quatro meses de antecedência.
É a 19.ª viagem que faz “atrás de foguetões”, mas a entusiasta por assuntos espaciais reconhece que nunca viu tanta gente como neste lançamento. “Toda a gente começou a fazer uma contagem decrescente. Depois, começaram a festejar”, conta a jovem.
Desde a construção da Estação Espacial chinesa, foguetões do modelo Long March 5B foram lançados três vezes. Os dois primeiros lançamentos, que também não tinham um local definido de aterragem, ficaram marcados por críticas da comunidade internacional.