O tema tem passado ao lado da campanha eleitoral, mas as populações não o esquecem. E é por isso, que os movimentos contra as explorações mineiras projetadas para a região do Barroso voltam de novo à rua, em manifestação marcada para sábado, dia 22 de janeiro.
A concentração vai acontecer na Praça do Município, em Montalegre, pelas 14h30 de onde partirá em arruada por várias artérias da vila onde está a decorrer a Feira do Fumeiro, fator de atração à região.
O protesto surge após o Movimento Não às Minas – Montalegre ter solicitado a todos os partidos concorrentes às eleições legislativas uma tomada de posição sobre a exploração mineira no país e, em particular, na região do Barroso. A resposta não chegou e o movimento defende que “as pessoas precisam saber o que pensam e que medidas tomarão os partidos para travarem este atentado ao ambiente, à vida e à saúde das populações, para que assim possam votar em consciência”.
Segundo Vitor Afonso do Movimento Não às Minas, “a gravidade da situação atual e futura” não pode ficar sem resposta”, porque “são 22 contratos já assinados, entre prospeção, pesquisa e exploração, para áreas diferentes da região, num território de apenas 1.128 Kms2” e os cidadãos devem estar esclarecidos “para que possam ter um voto em consciência”.
Os projetos mais avançados e os que geram maior preocupação aos habitantes da região do Barroso são a Mina do Barroso (Savannah), em Boticas; a Mina do Romano (Lusorecursos) e a Mina da Borralha (Minerália), em Montalegre.
Para breve, segundo o Movimento Não às Minas, estará a saída de várias decisões como sejam: o lançamento da participação pública do Estudo de Impacte Ambiental da Mina do Romano; a decisão sobre o Estudo de Impacte Ambiental da Mina do Barroso e, as conclusões da avaliação ambiental estratégica do PPP do Lítio.
Vitor Afonso alerta que este tipo de decisões, que de alguma forma poderão ter alguma relevância em termos eleitorais, costumam “ser tornadas públicas poucos dias após a ocorrência das eleições”.
“A assinatura dos contratos, no qual se inclui a Borralha, aconteceu depois já do Orçamento do Estado ter sido recusado; no caso do lançamento da avaliação ambiental estratégica do lítio surgiu um ou dois dias depois das últimas eleições autárquicas”, exemplifica.
Ora - diz o movimento – “se os processos avançam nas secretarias governamentais da APA e da DGEG, os protestos na rua também não podem parar”.
As populações da região sentem que “não são ouvidas e a sua vontade não é respeitada”.
“Queremos dizer que não estamos de acordo como as coisas têm acontecido. O povo devia ser mais ouvido” porque apesar de existirem processos de participação “as reivindicações não são tidas em conta, ou seja, os processos avançam da forma que eles querem”, afirma Vitor Afonso.
Por isso, o Movimento Não às Minas – Montalegre e a Associação Povo e Natureza de Barroso, “entenderam ser este o momento para mais esta chamada de atenção para a incompatibilidade da exploração mineira com o modo de vida das populações locais, por mais propaganda enganosa que se faça em sentido contrário, com as promessas de emprego, desenvolvimento e rigor ambiental”, lê-se no comunicado enviado à Renascença.
Argumentos para o “não” às minas
São vários os argumentos usados pelos movimentos que contestam as explorações mineiras na região. Desde logo porque se localizam na envolvência de barragens onde é feita captação de água para consumo humano.
“A Barragem do Alto Rabagão abastece a região de Barroso e Alto Tâmega e a Barragem da Venda Nova abastece o Vale do Ave. Além disso, o caudal destas duas barragens, inseridas no rio Rabagão, vai desaguar no rio Cávado, em cujo vale existem mais captações, que abastecem, entre outras, a cidade de Braga”, assinala o movimento, acrescentando que além da “contaminação dos solos” as minas significam “riscos para a biodiversidade”.
Mais há mais… Segundo Vitor Afonso estão em causa “muitas coisas nomeadamente a ocupação de terrenos”.
“Estamos a falar de muitas áreas do baldio que servem para sustento das populações e que vão ser ocupadas e terrenos particulares também; a saúde das populações devido às poeiras; a poluição sonora; a desvalorização dos imóveis, todas as casas e terrenos que fiquem dentro da construção e mesmo nas proximidades vão perder valor; das expropriações de terrenos sem que as pessoas estejam interessadas”, exemplifica o porta-voz do movimento.
No caso das Minas da Borralha teme-se o "aluimento de terras porque existem galerias a mais de 260 metros de profundidade".
Montalegre e Boticas são concelhos onde as populações se dedicam, maioritariamente, às atividades relacionadas com a agricultura e pecuária e segundo os promotores da manifestação “a atividade mineira, devido às suas graves consequências não é bem-vinda a estas terras”.
“A aposta deve continuar a centrar-se no turismo, na valorização e transformação dos produtos locais de grande qualidade e em atividades ligadas à natureza”, defendem, alertando que a região de Barroso ostenta o selo de Património Agrícola Mundial; Montalegre insere-se na Reserva da Biosfera do Parque da Peneda-Gerês e se “as minas avançarem, estas duas honrosas classificações poderão perder-se”.
A Manifestação agendada para sábado é organizada pelos Movimento Não às Minas e Associação Povo e Natureza do Barroso e conta com a adesão de outras associações e movimentos, incluindo da vizinha Espanha, que lutam contra as explorações mineiras.