O Presidente da República enalteceu hoje os capitães de Abril e defendeu que o seu "gesto refundador" deve ser agradecido "pense-se o que se pensar sobre o que foram antes e depois desse gesto".
Marcelo Rebelo de Sousa deixou esta mensagem no início do seu discurso na sessão solene comemorativa do 48.º aniversário do 25 de Abril na Assembleia da República.
"Há um ano falei-vos do Portugal na sua caminhada do império até ao 25 de Abril, à descolonização e à democracia. E nunca é de mais e agradecer o gesto refundador dos capitais de Abril", afirmou o Presidente da República.
"Pense-se o que se pensar sobre o que foram antes e depois desse gesto, ele foi único, singular e decisivo. Sem ele não haveria hoje uma Assembleia da República livre com vozes livres. Não há como esquecê-lo na escrita ou na reescrita da História", acrescentou.
Antes, durante esta sessão solene, o presidente do Chega, André Ventura, que defrontou Marcelo Rebelo de Sousa nas presidenciais de janeiro de 2021, dirigiu-se ao chefe de Estado como seu "adversário e vencedor das últimas eleições" e pediu-lhe que "não condecore aqueles que torturaram, mataram e expropriaram em Portugal", sem nomear ninguém em concreto.
Também no início da sua intervenção, Marcelo Rebelo de Sousa evocou "com muita saudade" o antigo Presidente da República Jorge Sampaio, que morreu em 10 de setembro do ano passado, aos 81 anos, elogiando-o pela "constante militância cívica que pautou a sua vida por Portugal".
O chefe de Estado saudou o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, "com elevada consideração pessoal e solidariedade institucional" e realçou que esta era a primeira vez que usava da palavra perante o parlamento desde as eleições legislativas de 30 de janeiro.
Se há um ano nesta data histórica Marcelo Rebelo de Sousa centrou o seu discurso na memória do passado colonial, hoje dedicou hoje a sua intervenção às Forças Armadas, pedindo que lhes sejam atribuídos mais meios.
Neste contexto, definiu Portugal, "a pátria que elas existem para servir", como "uma comunidade de vida, de cultura, de língua, de identidades forjadas na diversidade, a que muitos chamam nação", considerando que o Estado português "é há muito plurinacional".
"Portugal são os portugueses mais os que se acolheram ou por eles foram acolhidos, e cada qual diferente, diverso, irrepetível. Servir a pátria, como existem para servir as Forças Armadas é servir esses portugueses cá dentro e lá fora mais aqueles que se integram na nossa família comum", sustentou o chefe de Estado.
O 25 de Abril cumpre 48 anos num momento de guerra na Ucrânia, em que a invasão pela Federação Russa dura há dois meses, e no dia seguinte à reeleição de Emmanuel Macron, centrista liberal, como Presidente de França, na segunda volta das presidenciais francesas, contra Marine Le Pen, da extrema-direita.
Na sequência das eleições de 30 de janeiro, a Assembleia da República reconfigurou-se e tem agora uma maioria absoluta de deputados do PS, seguindo-se o PSD e como terceira força política o Chega, partido que se apresentou às legislativas com o lema "Por um novo regime democrático: Deus, pátria, família e trabalho", recuperando palavras de ordem do salazarismo.