Os bispos do Haiti alertam a “comunidade internacional para a extrema gravidade da situação” no país e apelam aos “grupos ilegitimamente armados e a quem os financia”, para que “cessem a loucura assassina do ódio e do desprezo pela vida”.
“Silenciem as armas, abandonem a lógica diabólica e perversa das armas!”, imploram os bispos.
Numa mensagem, citada pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), os responsáveis católicos defendem que é necessário investir na reorganização das infraestruturas, nos sistemas de saúde e de educação, bem como na mudança de mentalidade.
“Chegou a hora de reformar as instituições, sobretudo a Justiça; acabar com a cultura da impunidade, causa lógica da corrupção e da violência no país; assegurar um futuro melhor, no espírito de pertença a esta terra haitiana”, lê-se na mensagem.
Segundo os bispos, a emigração é uma das consequências dolorosas da crise que se vive no país.
“Muitas pessoas, por causa das condições insuportáveis no país, são obrigadas a se refugiar, ‘às pressas e a todo custo’, em territórios onde nem sempre são bem-vindas. Na vizinha República Dominicana, por exemplo, são submetidas a um tratamento indizível, que espezinha os princípios imperativos dos direitos humanos, do direito internacional humanitário e do direito dos refugiados, sobretudo do Acordo de 1999”, denunciam.
De acordo com a AIS, a violência que cresceu de forma imparável ao longo do ano passado não poupou sequer a Igreja. Além dos casos de sequestro de sacerdotes, houve até o assassinato de uma religiosa, a missionária italiana Luisa Dell’orto, das Irmãzinhas do Evangelho de Charles de Foucault, a 25 de junho, na cidade de Port-au-prince, a capital haitiana.
A crise o Haiti é de tal forma grave – assinala a AIS – ed que o Canadá anunciou esta quarta-feira, dia 11 de janeiro, a entrega ao governo de Port-au-Prince de um conjunto de veículos blindados para ajudar a polícia e o exército a combater os gangues, as organizações criminosas que atuam no país.
Em dezembro, a vice-secretária-geral da ONU, Amina Mohammed, apelou à comunidade internacional para apoiar os esforços da polícia e do exército no restabelecimento da segurança no país, para tornar possível a circulação de pessoas e bens e também da própria ajuda humanitária, junto das populações em maior necessidade.
A agravar esta situação de insegurança, já classificada como a pior emergência humanitária e de direitos humanos em décadas, o Haiti está a atravessar também uma grave crise sanitária, com o risco real de uma epidemia de cólera.
No sentido de ajudar a Igreja do Haiti, a Fundação AIS, só no ano de 2021, apoiou cerca de sete dezenas de projetos num valor global de cercas de 1,4 milhões de euros, destinados essencialmente para a aquisição de veículos para o trabalho pastoral e a formação de leigos e sacerdotes.