Como era de esperar, o ambiente social e laboral tem-se degradado fortemente. O número de greves em sectores essenciais, como a educação e os transportes aumentou de forma significativa e o impacte dos aumentos das taxas de juro sobre os rendimentos de muitas das famílias endividadas que vivem dos salários tem sido ou vai ser muito negativo. Tudo isto acabará por trazer custos económicos.
É verdade que houve um processo inflacionista de mediana gravidade concentrado inicialmente em bens essenciais, ou seja energia e bens alimentares. Mas também é verdade que a resposta da política económica à inflação foi desajustada e injusta.
Na realidade, fazer recair praticamente todos os custos do combate à inflação sobre os salários, em particular os da função pública e os doutros sectores que seguem a evolução salarial da função pública, é desajustado e profundamente injusto, principalmente num ano (2022) em que a economia cresceu como já não crescia desde há trinta e cinco anos. Política surpreendente vinda de um governo que se reclama dos valores de esquerda, sendo certo que aa valorização do trabalho é um dos domínios por onde passa a clivagem entre direita e esquerda.
Esta política é especialmente desajustada porque Portugal tem um problema grave de emigração de pessoal qualificado, em que a diferença de nível de remunerações com outros países - agora agravada - é o factor mais importante que explica esta emigração. Desajustada ainda porque para além das greves, vai ser uma nova machadada sobre a qualidade da resposta dos serviços públicos.
Com estas consequências, estamos num caso clássico de quem semeia os ventos não ser quem colhe as tempestades.