O que pensa o novo ministro da Educação, Ciência e Inovação sobre o setor que vai dirigir a partir da próxima semana? Recuperamos algumas declarações de Fernando Alexandre dos últimos anos que ajudam a compreender as ideias daquele que vai liderar um “super" Ministério.
Em junho do ano passado, ainda longe de saber que ia ser ministro da Educação, Fernando Alexandre insurgiu-se contra a desigualdade em Portugal e defendeu uma Educação mais próxima do mercado de trabalho.
"A desigualdade limita a capacidade de sonhar. Porque depende das condições que temos na nossa sociedade", afirmou o economista de formação na Conferência "O poder dos jovens na mudança global", uma iniciativa da Renascença com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
"São precisas cinco gerações para sair dessa condição, é quase uma condenação: temos 20% das crianças que nascem estão condenadas a viver na pobreza", sublinhou.
O docente defendeu ainda que a educação tem de ter uma maior proximidade à realidade, assegurando as competências necessárias, mantendo as que estão, atualmente, definidas, mas também desenvolvendo qualificações de "soft skills", através da criação de programas para fortalecer essa dimensão de formação.
No mercado de trabalho, descreveu também a necessidade de criar condições para que as empresas possam aproveitar o talento que existe.
Além disso, sugeriu a adaptação da gestão de recursos humanos, que considerou estar desadequada, já que a atitude dos jovens em relação ao trabalho é diferente e as melhorias necessárias não são só relativamente aos ordenados.
"Não conseguimos transformar aumento da escolaridade em valor económico"
Sobre as qualificações, Fernando Alexandre referiu que Portugal não tem, "olhando o crescimento da produtividade e escolaridade, casos de sucesso que não estejam associados a um grande aumento da escolaridade da população".
Destacando que até 2000 essas duas variáveis estavam intrinsecamente ligadas proporcionalmente, o docente da Universidade do Minho salientou que, desde então, essas duas variáveis ficaram desconexas.
“Continuamos a somar capital humano, a aumentar de forma significativa a escolaridade, mas não o conseguimos transformar em valor económico”, disse.
"Há muitos fatores para isso, um tem que ver o 'matching' entre as qualificações das pessoas e as necessidades da economia. Podemos pensar que o Ensino Superior está a dar qualificações que não são aquelas de que as empresas precisam. Será que estamos a formar diplomados a mais? Há uma parte que pode ter que ver com isso… A estrutura da economia pode não ter feito a transformação necessária para aproveitar esse capital humano. Mas também há muitas dimensões na gestão das empresas que podem contribuir para isso."
Em julho de 2020, em declarações ao programa “Aqui Entre Nós”, uma parceria da Renascença com a Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), alertava para o problema da emigração de jovens qualificados.
“Um país que perde os seus melhores, que perde aqueles que não perderam a ambição e que vão procurá-la noutro país, faz com que o país fique abaixo daquele que era o seu potencial, porque deixamos de ter cá aqueles que mais vontade têm de mudança. Temos que garantir que no país há essa capacidade de mudança, as pessoas têm que perceber que essa mudança é possível.”
Fernando Alexandre também coordenou vários estudos nos últimos anos. Num deles, divulgado em outubro de 2021, era defendida uma aposta económica na inovação, no ensino superior e no litoral e menos impostos para as empresas.
O estudo publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos propõe um novo modelo de desenvolvimento económico. Defende uma estratégia que valoriza as empresas mais inovadoras, as universidades de excelência e mais flexibilidade e mobilidade no mercado de trabalho. Os autores assumem que é preferível apostar nas regiões com melhores indicadores, que estão no litoral entre Sines e Viana do Castelo.