Crianças separadas dos pais são mantidas em jaulas nos EUA
18-06-2018 - 16:32

Uma investigação da Associated Press revela crianças deitadas entre garrafas de água, sacos de batatas fritas e folhas de jornal que servem de cobertores.

Centenas de crianças de imigrantes e refugiados que tentaram entrar nos Estados Unidos são mantidas em gaiolas enquanto esperam pelos seus pais.

Uma investigação da Associated Press revela crianças deitadas entre garrafas de água, sacos de batatas fritas e folhas de jornal que servem de cobertores.

As razões evocadas para a separação de famílias entre fronteiras prendem-se com a política de “tolerância zero” para os pais, que entraram ilegalmente em território norte-americano. Jeff Sessions, o Procurador-geral dos Estados Unidos da América, já veio a público defender os procedimentos como uma forma necessária de fazer cumprir a lei.

As crianças são mantidas em jaulas, dentro de salas cujas as luzes estão acesas o dia inteiro e onde existem casas de banho portáteis.

Num artigo de opinião publicado esta segunda-feira no jornal norte-americano The Whashigton Post, a antiga primeira dama dos EUA, Laura Bush, refere-se a esta denúncia classificando como “cruel” e “imoral” a nova polémica migratória de Donald Trump.

No mesmo jornal, fala-se em “crianças que choram até dormir, mães que são falsamente informadas de que os seus filhos apenas foram levados para que recebessem um banho, um pai que se matou num centro de detenção depois de o seu filho lhe ser retirado dos braços”.

Casa Padre, o local de asilo

Uma das histórias que o meio de comunicação americano conta é de Justo Solval, um operário de Guatemala que viajou com o filho de 21 meses, que pediu asilo e foi obrigado a pernoitar pelas ruas de Nogales, Arizona. O jornal alega que os requerentes de asilo não são informados que não podem pedir acolhimento e que lhes é indicado apenas que é um processo moroso e que “têm de esperar”.

Casa Padre é a instituição mais referida pela imprensa internacional como um dos locais de asilo de crianças separadas das suas famílias. É, segundo o Post, uma “loja Walmart convertida” num local que recebe 1 500 crianças imigrantes. Vista de fora, é um mistério para os que passam. Por dentro, dizem os relatos do jornal que contém “salas de aula, centros recreativos e salas para exames médicos”.

O abrigo alberga mais de 1 400 rapazes e, apesar de a maioria ser composta por adolescentes que atravessaram a fronteira sozinhos, muitos outros são mais novos e “foram separados à força dos pais na fronteira”. Onde antes havia um restaurante McDonald’s, há agora trabalhadores que se servem de comida. Noutro dos espaços, as crianças vêm desenhos animados, como “Moana”, dobrados em espanhol.

Segundo The Washigton Post, há um novo problema social, gerado em rapazes e raparigas que ficaram traumatizados na separação forçada dos pais. Juan Sanchez, chefe do executivo da base do Texas, diz que, para os acomodar, os programas de Southwest Key vão ter de equipar os asilos com “casas de banho mais pequenas, lavatórios mais pequenos, tudo mais pequeno”. A cada dia que passa, a Casa Padre aumenta o número de moradores e o Post reforça que o asilo não tem condições para dar resposta ao número de crianças e adolescentes que vão chegando em carrinhas brancas: não há nem empregados suficientes nem especializados para lidar com crianças atingidas pela situação instigadora de trauma.

Quando chegam às instalações da Casa Padre, os rapazes são medicamente analisados, são alinhados num corredor e a imagem do Presidente Donald Trump é a primeira que recebem pintada num mural. O mesmo Presidente que defende a lei da “tolerância zero” que tem separado as crianças das suas famílias, quando estas passam a fronteira ilegalmente.