Os clubes continuam a cumprir sessões de treinos individualizados, na preparação para as 10 jornadas que faltam da I Liga. Com o reínicio da competição previsto para 30 de maio, espera-se que a partir de dia 18 as equipas possam voltar aos treinos coletivos.
José Neto, um dos mais conceituados metodólogos de treino portugueses, considera urgente os jogadores passarem à fase dos treinos coletivos, estranhando o atual modelo de preparação.
“Ao nível da estrutura de treino causa-me estranheza ver os jogadores a trabalhar de forma muito individualizada. Os jogadores estão sem privar com o balneário, nas refeições ou reuniões de grupos. O futebol é tudo menos isto", defende, em entrevista a Bola Branca.
José Neto anota que, neste momento, "o treino é apenas dirigido às competências cardiofuncionais, no âmbito da força, resistência e velocidade, no sentido de valorizar o consumo máximo de oxigénio e neutralizar algumas atrofias musculares e potenciar outras".
"Começa a ser urgentíssimo uma dinâmica de treino por setores e a formulação prática dos processos defensivos, ofensivos, transições e bolas paradas que só em termos coletivos se pode fazer. Em termos de periodização de treino as cargas e a sua readaptação encontram-se escondidas entre as brumas da memória”, refere o metodólogo de treino.
A importância de combater o medo
José Neto é também mestre em Psicologia do Desporto, e assinala as ferramentas a usar pelas equipas técnicas, no plano mental.
“Nestas condicionantes, é importantíssima a metodologia do treino psicológico e mental. Inserir essas vertentes com a abordagem das técnicas de respiração, imaginação, visualização mental, autoconfiança, rendimento, estratégias de libertação do stress e ansiedade, com as técnicas de relaxamento muscular progressivo que permitem aumentar a confiança no jogador, encorajando-o para ser bem sucedido. Inserir aspetos motivacionais reformulando os objetivos de conquista", explica.
É também necessário, sublinha, "operacionalizar o conceito de treino nas técnicas de redução de stress e ansiedade, numa clara obtenção de ritmos ótimos de rendimento e desempenho. As técnicas apropriadas nos claros momentos de funções como livres ou penaltis. Simular as condições adversas que irão ter pela frente, instrumentalizando-as no sentido de preparar para um futuro bem sucedido”, detalha em entrevista a Bola Branca.
Ainda no plano mental, José Neto destaca a relevância de combater os receios dos jogadores pelo perigo de contágio da Covid 19, no regresso à competição.
“É importantíssimo também combater o medo que o reassumir da competição pode gerar. E se não for gerido de forma adequada encurrala, tortura e afasta o jogador do núcleo da sua melhor decisão. Quem não for capaz de controlar estes aspetos mentais acaba de se boicotar a si próprio e por não ganhar porque teve medo de perder”, avisa.
José Neto, é metodólogo de treino, docente universitário, mestre em Psicologia no Desporto e doutorado em Ciências do Desporto.