O Presidente de Moçambique começa esta terça-feira uma visita de Estado de quatro dias a Portugal, a convite de Marcelo Rebelo de Sousa.
Um dos temas a discutir é a reconstrução das áreas atingidas pelos ciclones que atingiram Moçambique há poucos meses, sobretudo o ciclone Idai, que em março provocou mais de 600 mortos e afetou mais de 1,5 milhões de pessoas, sobretudo na região da Beira.
Já em abril foi a vez do norte de Moçambique ser atingido pelo ciclone Kenneth, que matou 45 pessoas e deixou também um rasto de destruição.
A visita de Filipe Nyusi coincide ainda com o Fórum Euro-África, em que será abordada a questão da reconstrução das zonas afetadas pelos ciclones e a ajuda às populações.
Para perceber como tem decorrido essa ajuda a Renascença conversou com Carlos Almeida, coordenador da ONG Helpo, que leva a cabo projetos na área da educação, no norte e centro do país.
Carlos Almeida diz que a ajuda humanitária demorou a chegar, mas assegura que chegou a todos os que perderam praticamente tudo, como por exemplo, na zona do Chimoio, próximo da fronteira com o Zimbabué, uma das mais afetadas.
“A experiência que temos é que efetivamente a ajuda demorou a chegar, mas acabou por chegar a toda a gente. Pouco ou muito, acabou por chegar a todas as pessoas alguma ajuda. Evidentemente que quando se perde tudo toda a ajuda é pouca”, diz.
“Nós trabalhamos na área da educação e estamos muito envolvidos na reconstrução de salas de aula. Foram 480 salas de aula que foram destruídas e da nossa parte o que sentimos foi um bocadinho o mesmo que aconteceu na Beira, a ajuda demorou a chegar. Há muitas populações que são de difícil acesso e efetivamente o processo foi mais demorado do que nós acharíamos.”
Missão: Tornar-se inútil
Com os ciclones, a Helpo teve de se adaptar e passar de projetos na área da educação a desenvolver uma operação de auxílio de emergência às populações.
“Achámos que tínhamos a obrigação de fazer alguma coisa, e como tínhamos essa capacidade montámos uma missão em saúde nutricional materno-infantil, encontrámos umas parceiras do instituto de Pequenas Missionárias de Maria Imaculada, que funciona na província de Manica, perto da fronteira do Zimbabué, essas irmãs têm um centro de saúde que funciona, e desde o início de abril que estamos a trabalhar de perto com as populações.”
De resto, os projetos de educação que tem desenvolvido fazem com que esteja na linha da frente. Há, até, agências internacionais a apostar na Helpo.
“Estamos em contacto com a UNICEF, que pretende reconstruir mais salas de aula, e como a parceira que tem estado a dar uma resposta mais efetiva tem sido a Helpo, estamos na linha da frente para ser a organização que vai tratar desse processo. No fundo este ciclone, que para nós veio dar uma grande dor de cabeça e virar tudo de pantanas, foi também uma oportunidade de mostrar a qualidade do nosso trabalho e neste momento temos grandes agências internacionais a apostar em nós, o que nos deixa muito orgulhosos e com grande sentido de responsabilidade”, explica.
Daqui a uns anos Carlos Almeida espera que se torne realidade uma frase que ouviu há alguns anos de um padre comboniano, sobre o futuro de Moçambique e o papel das ONG.
“Cheguei a Moçambique, a trabalhar com a Helpo em 2010, e na altura um padre italiano disse-me uma frase que me marcou muito. Disse que o objetivo dele em África era tornar-se inútil. No fundo isso deve ser sempre o papel das ONG, estamos a fazer o nosso trabalho para que um dia isso aconteça. Não sei se será nos próximos anos, duvido, mas sou otimista e acredito que um dia as ONG vão desaparecer em Moçambique”, afirma Carlos Almeida.
Atualmente, porém, Moçambique contínua ser um país muito dependente de ajuda internacional, ocupando a 180.ª posição entre os 189 países no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU.