O presidente do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) apela ao Governo que deixe de fazer “propaganda” e que passe das palavras aos atos. Na opinião de Roque da Cunha, o Ministério das Saúde não tem dito a verdade sobre a real situação dos hospitais.
“Em vez de apresentar soluções, o Ministério da Saúde optou por dizer que as coisas estavam bem, que nunca houve tantos médicos no SNS, que estava tudo no melhor e quando a realidade se confronta com a propaganda, a realidade ganha sempre”, diz à Renascença.
Por isso, no dia em que a ministra da Saúde se vai reunir de emergência com o setor, na sequência dos vários encerramentos durante o fim de semana, o presidente do SIM diz esperar soluções e não encenações.
“Tem de se perceber que não é possível ter um médico especialista em 40 horas com um salário de 1.800 euros, que aliás perdeu cerca de 30% de poder de compra nos últimos anos. É essencial que nestas reuniões o Ministério da Saúde assuma que tem um problema e assuma que o quer resolver e que vai investir no Serviço Nacional de Saúde. Não estamos muito disponíveis para encenações”, sublinha.
Depois da morte de um bebé no hospital das Caldas da Rainha por alegada falta de obstetras, no passado dia 9, e de um fim de semana prolongado marcado pelo encerramento de vários serviços hospitalares, a ministra da Saúde, Marta Temido, reúne-se de emergência nesta segunda-feira com as administrações regionais de saúde e a Ordem dos Médicos.
FNAM. SNS está “no limite das suas capacidades”
A Federação Nacional dos Médicos alerta para a multiplicidade de problemas que afetam o Serviço Nacional de Saúde (SNS) e que levam muitos clínicos a deixar o setor público.
Por isso, das reuniões desta segunda-feira, a FNAM “esperaria que houvesse uma mudança de postura por parte dos Ministério em relação aos problemas de fundo que afetam o Serviço Nacional de Saúde”.
À Renascença, o sindicalista Noel Carrilho diz que olhar apenas a falta de médicos obstetras é uma “forma afunilada” de ver o problema, “que é só um dos múltiplos problemas, até do mesmo tipo, que existem a todo o momento no Serviço Nacional de Saúde, que labora no limite das suas capacidades e não é só na especialidade de ginecologia/obstetrícia, é em todas as especialidades”.
Esta situação é depois “evidente nas listas de espera, na falta de médicos de família, na incapacidade de responder à necessidade de exames complementares de diagnóstico”, conclui o representante da FNAM.
Na opinião de Noel Carrilho, “ao longo destes governos, nada tem sido melhorado e, portanto, a consequência é esta: são médicos que abandonam o Serviço Nacional de Saúde, deixando-o desprovido de recursos para qualquer contingência que exista”.
Durante o fim de semana, foram vários os hospitais – sobretudo na região da Grande Lisboa, mas não só – que se viram obrigados a encerrar serviços de urgência, nomeadamente obstétrica, devido à falta de profissionais.
No domingo à noite, à margem das Marchas Populares de Lisboa, o Presidente da República justificou as dificuldades com o esforço prolongado a que os médicos têm sido sujeitos desde o início da pandemia de Covid-19, mas espera que estes problemas possam ser prevenidos no futuro.
“Há que prevenir para o futuro”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.
[Notícia atualizada às 10h40 com declarações da FNAM]