O ex-Presidente da República e antigo primeiro-ministro, Aníbal Cavaco Silva, defende que a popularidade dos ministros, medida pelas sondagens, não deve ser critério de avaliação principal do seu desempenho num governo. Numa pré-publicação do 5.º capítulo do seu livro "O primeiro-ministro e a arte de governar", feita pelo jornal Público, o economista partilha várias recomendações sobre a liderança de um governo e de como avaliar ministros, em particular.
No capítulo entitulado "A avaliação dos ministros", Cavaco Silva considera que "um ministro popular pode não ser um bom ministro do ponto de vista do interesse nacional" e, por isso, "se viver delas e para elas [as sondagens], presta certamente um mau serviço para o país".
Num conjunto de conselhos à governação, o antigo chefe de Governo - que, recorde-se, teve a primeira maioria absoluta da democracia portuguesa - elenca os critérios para a avaliação da legitimidade dos ministros para permanecerem à frente das suas pastas ministeriais e a ética política do governo. Ao longo do capítulo disponibilizado antes da publicação do livro, que acontece sexta-feira, insiste na separação entre a popularidade e o interesse nacional.
"O cumprimento do programa do governo pode exigir a alguns ministros a realização e defesa de medidas impopulares no curto prazo", defende. Cavaco Silva entende que a "popularidade depende muito da exposição pública na comunicação social" e a avaliação da eficiência de um ministro deve ser baseada, no plano interno, "no dinamismo revelado no cumprimento do programa do governo (...), no respeito pelo princípio da solidariedade governamental (...) e na competência revelada nas negociações em que estiveram envolvidos no Conselho de Ministros da União Europeia".
No plano das relações com a sociedade, o ex-primeiro-ministro destaca "a capacidade de relacionamento com a sociedade civil e de resposta aos adversários políticos, bem como o bom senso e sentido de Estado perante a comunicação social".
Cavaco Silva desvaloriza, na avaliação que um primeiro-ministro deve fazer ao seu governo, o que considera serem "as críticas infundadas da oposição à ação por eles desenvolvida", alegando que não deve ser tido como um critério para a demissão de um ministro.
O antecessor de Marcelo Rebelo de Sousa reitera que a confiança política é um dos pilares da coesão de um governo. Se, por um lado, defende que "o que o primeiro-ministro não pode fazer é criticar o trabalho de um ministro em frente de quem quer que seja", a "falta de lealdade (...), o uso de linguagem insultuosa em relação a agentes políticos, económicos, sociais ou culturais, e indícios de corrupção" são exemplos mais do que suficientes para propor a demissão de um ministro.
O livro da autoria do ex-Presidente da República estará disponível nas livrarias a partir desta sexta-feira.