O presidente do PSD acusou esta quarta-feira o Governo de, na proposta de Orçamento do Estado que foi aprovada na generalidade, querer “dar tudo ao mesmo tempo” e ter “o descaramento de dizer que não há austeridade”, considerando que tal é “enganar as pessoas”.
“Distribuir o que se tem por quem mais precisa, é justo e merece o nosso apoio e incentivo. Mas distribuir tudo ao mesmo tempo - o que se tem e o que se não tem - é empenhar o futuro e enganar as pessoas. É dar a falsa ilusão de uma facilidade que não é real e que, mais tarde, poderá ter de ser paga com desnecessário sofrimento”, afirmou Rui Rio, na sessão de encerramento do debate na generalidade do Orçamento do Estado na Assembleia da República.
O presidente do PSD voltou a justificar o voto contra do partido não só pelo conteúdo do documento, mas também invocando as declarações do primeiro-ministro, António Costa, no final de agosto ao Expresso.
“Fazemo-lo, também, com a tranquilidade de quem foi informado - por quem de direito - que o seu projeto tem de ser à esquerda e que, por isso, qualquer outro sentido de voto do PSD não teria qualquer efeito em matéria de estabilidade económica ou de prevenção de uma inoportuna crise política”, disse, assegurando que o partido se guiará pelo interesse nacional e renunciará “sempre à demagogia, ao populismo e ao facilitismo”.
O presidente do PSD criticou o Orçamento construído pelo PS e “com quem decidiu partilhar o seu projeto político” por, na sua opinião, se limitar a “olhar para o presente e quem vier atrás que feche a porta”.
“Em plena e gravíssima crise económica e sanitária, o Governo anunciou dar tudo ao mesmo tempo, com pouca lógica e fraco critério. Para ele, importante é tentar convencer os portugueses que não há austeridade”, lamentou.
Rio avisou que a crise provocada pela pandemia de covid-19 até poderá ter outro nome, “porventura mais feio”, mas será sempre “um período de angústia, de incerteza e de sofrimento” para milhares de portugueses.
“Pode haver desemprego e falências; pode haver milhares de trabalhadores em 'lay-off' com cortes de um terço no seu vencimento; pode haver empresas sem capacidade para pagar os seus salários; pode haver setores da economia estagnados; pode haver regiões socialmente devastadas; pode haver famílias inteiras no desemprego; pode haver portugueses sem acesso às consultas médicas e às intervenções cirúrgicas que necessitam; pode até a taxa de mortalidade por patologias não-covid estar muito acima do normal, que para o Governo o importante é ter o descaramento de dizer que, com ele, não há austeridade”, criticou.
Na sua intervenção, Rio voltou a acusar o Governo de “desorientação” na preparação do país para a segunda vaga da pandemia de covid-19.
“Falta planeamento, mas falta, acima de tudo, consideração e respeito, designadamente por quem não tem outros meios para se tratar que não seja o serviço público de saúde”, criticou.
Rui Rio admitiu que seria impossível um país estar “totalmente preparado” para uma pandemia, mas considerou que “era obrigação” de quem governa ter planeado melhor uma resposta à segunda vaga.
“Não é fácil de entender que coerência pode existir entre, por exemplo, a realização da festa do Avante ou milhares de pessoas lado a lado num autódromo, e as medidas restritivas que, em paralelo, temos de impor à vida quotidiana dos portugueses”, afirmou, a três dias de um Conselho de Ministros para definir “ações imediatas” de resposta à covid-19.
O líder do PSD salientou ainda que a atual proposta de orçamento “esquece a importância determinante das empresas” no relançamento da economia”, apontando as diferentes opções dos sociais-democratas.
“Não será possível, neste momento, uma enorme redução dos impostos, do défice ou da dívida, nem uma política agressiva de apoio à exportação e ao investimento. Mas, como disse, é absolutamente imprescindível mudar o rumo”, defendeu.
Para Rui Rio, “ao contrário das opções ideológicas da denominada geringonça”, o que “aflige um social-democrata não é a existência de ricos, é a existência de pobres”.
“Por isso, apostar no futuro é apostar em elevar os mais desfavorecidos ao patamar de uma classe média de nível europeu”, defendeu.