Ventura sonhou e entrou na piscina dos grandes: Chega condiciona futuro político em Portugal
11-03-2024 - 01:05
 • Tomás Anjinho Chagas , João Pedro Quesado (infografia)

Chega quebra "bipartidarismo" e torna-se incontornável daqui em diante. Ventura faz exigências e pressiona PSD a abrir a porta do diálogo. Partido pode sofrer dores de crescimento por quase quadruplicar bancada.

A noite adivinhava-se de festa, mas até para os mais otimistas era difícil pensar neste resultado: o Chega passou de um para 12 deputados em 2022, e agora trepou para (pelo menos) 46 deputados em 2024.

As consequências políticas podem ser várias e muito diferentes, mas é certo que hão-de existir. Não há maioria de direita sem o Chega e o partido vai usar essa força ganha nas urnas para se impor perante a AD que permanece irredutível: "Não é não", insiste Montenegro.

Seja a viabilizar orçamentos, a apresentar moções de censura ou a integrar o Governo, o Chega é agora incontornável e é difícil, aritmeticamente, ignorar um partido que conquistou quase um em cada cinco votos dos portugueses.

Bicadas a Marcelo e pressão ao PSD

Desde que se soube que iria haver eleições antecipadas que André Ventura assumiu que o seu objetivo era vencer eleições. Mesmo não tendo conseguido, a noite foi vista como a consagração de uma vitória para o Chega. Os militantes que forraram a sala cantaram em uníssono e deixaram claro que multiplicar quase por quatro a votação de 2022 era mais do que suficiente.

Foi com esse embalo que André Ventura partiu para o discurso e arrasou o Presidente da República. Depois de o Expresso ter revelado que Marcelo Rebelo de Sousa irá fazer de tudo para evitar que o Chega seja envolvido na solução de governo, Ventura responde: "Este bom povo português sabia o que queria e que não se deixaria condicionar. Disseram direitinho ao Palácio de Belém que quem escolhe o Governo em Portugal são os portugueses", sublinhou, com palavras quase abafadas pelo aplauso.

Passando pelas críticas ao PS e à esquerda, André Ventura focou-se especialmente na sede da AD para pressionar o PSD para uma solução. O tom foi pensado e a palavra escolhida cirurgicamente: responsabilidade.

"Haverá uma maioria clara, entre o PSD e o Chega. Só um líder muito irresponsável deixará o PS governar quando temos na nossa mão a possibilidade de mudança", declarou André Ventura, insistindo na estratégia que encetou nas semanas de campanha.

Dores de crescimento?

O Chega teve um crescimento exponencial em 2022, e volta agora a catapultar-se. A subida foi meteórica, com mais de um milhão de votos, o partido alcança pelo menos 46 deputados e aproxima-se do PS e PSD. "Acabou o bipartidarismo em Portugal", diagnosticou Ventura ao início da noite.

Mas à conquista junta-se o desafio de gerir uma bancada parlamentar que quase quadruplica em relação a 2022. O "partido de um homem só" abraça agora os problemas de um partido de média ou grande dimensão, onde a coesão é sempre mais difícil de manter.

"Acabou o socialismo!": ambiente de festa na sede

Ainda a noite estava a começar quando se deu a primeira reação (espontânea) dos militantes do Chega que estavam concentrados no hotel em Lisboa. Foi efusiva: "16-20%!?!?", exclamaram várias pessoas num tom de agradável surpresa.

Logo depois, cantou-se e gritou-se pelo nome do partido: “Chega! Chega! Chega!”, depois destes resultados que representam uma vitória do partido.

"Acabou o socialismo!", gritou um militante presente depois de serem conhecidas as primeiras projeções à boca da urna destas eleições. Daí até ao final da noite, a festa seguiu sempre em crescendo.