Alegados soldados eritreus mataram pelo menos três pessoas e feriram outras 19 ao dispararem sobre civis na região etíope de Tigray, devastada por um conflito interno, anunciou esta quarta-feira a Amnistia Internacional.
“Três pessoas morreram e pelo menos outras 19 foram hospitalizadas noutro ataque horrível das tropas eritreias contra civis em Tigray”, disse a diretora-adjunta da Amnistia Internacional para a África Oriental, Sarah Jackson, numa declaração citada pela agência France-Presse (AFP).
“Os ataques deliberados contra civis são proibidos pelo direito humanitário internacional e devem cessar”, acrescentou a responsável.
Segundo testemunhos recolhidos pela Amnistia Internacional, os soldados eritreus, reconhecíveis pelos seus uniformes, abriram fogo sobre os residentes numa das principais ruas da cidade de Adwa, perto da estação de autocarros.
Os testemunhos confirmam os relatos da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF).
A Amnistia Internacional pediu uma investigação internacional sobre o ataque e, a nível mais geral, às violações dos direitos humanos, incluindo possíveis crimes de guerra e crimes contra a humanidade, que possam ter acontecido desde o início do conflito em Tigray, em 4 de novembro.
O executivo da Eritreia negou, anteriormente, relatos de abusos por soldados eritreus contra civis, incluindo massacres e violações.
O incidente ocorre duas semanas depois de o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, ter anunciado o início da retirada das tropas eritreias da região.
Abiy Ahmed, Prémio Nobel da Paz em 2019 precisamente pelo acordo de paz que alcançou com a vizinha Eritreia, lançou uma intervenção militar a 4 de novembro para derrubar a Frente de Libertação do Povo Tigray (TPLF), o partido eleito e no poder no estado, depois de militantes deste terem atacado forças federais. Adis Abeba declarou a vitória em 28 de novembro, depois de tomar a capital regional Mekele, com o apoio de forças da Eritreia.
No entanto os combates continuaram e as forças eritreias são acusadas de conduzirem vários massacres e crimes sexuais. Num dos casos mais graves centenas de pessoas terão sido massacradas na histórica cidade de Axum por forças do país vizinho.
O conflito já deslocou quase um milhão de pessoas. As autoridades locais estimam que cerca de 950.000 pessoas fugiram dos combates e perseguições, principalmente do Tigray ocidental, mas também das regiões noroeste e central da região.