O primeiro-ministro apresentou esta terça-feira um pedido de demissão ao Presidente da República, que Marcelo aceitou, após ter sido noticiada a abertura de um processo-crime do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) que visa António Costa.
A informação foi confirmada pelo chefe de Governo numa antecipada declaração ao país, na qual disse estar totalmente disponível para colaborar com a Justiça.
"É meu entendimento que as funções de primeiro-ministro não são compatíveis com qualquer suspeição [...] e por isso apresentei obviamente a minha demissão ao sr. Presidente da República, que já a aceitou", disse a partir da residência oficial do primeiro-ministro em São Bento, um dos alvos de buscas esta manhã por suspeitas de tráfico de influência nos negócios do lítio e do hidrogénio verde.
"Fui hoje surpreendido com a informação oficialmente confirmada pelo gabinete de imprensa da Procuradoria-Geral da Republica (PGR) de que já foi ou irá ser instaurado um processo-crime contra mim. Obviamente, estou totalmente disponível para colaborar com a Justiça em tudo o que entenda necessário para apurar toda a verdade, seja sobre que matéria for. Quero dizer, olhos nos olhos, aos portugueses que não me pesa na consciência a prática de qualquer ato ilícito ou censurável. Como sempre, confio totalmente na Justiça, que servi ao longo da minha vida e que sempre defendi."
Questionado pelos jornalistas se pretende recandidatar-se ao cargo nas próximas eleições legislativas, Costa, que ficará em funções interinamente, afastou totalmente essa possibilidade. "Não, não me vou recandidatar."
Antes de responder às questões dos jornalistas, Costa dirigiu-se aos portugueses na sua declaração, para lhes agradecer a "oportunidade" de "liderar o país em momentos tão difíceis quanto exaltantes", agradecendo também ao Presidente da República, às regiões autónomas e às autarquias locais "a forma como agimos coletivamente em prol do nosso país."
"A todas e todos aqueles que me serviram nestes três governos. Dirigir uma palavra de simpatia e gratidão para com todos os líderes e dirigentes partidários, dos partidos de oposição e muito especialmente ao PS. Por fim, uma palavra muito sentida de agradecimento à minha família, muito em especial à minha mulher por todo o apoio, carinho, e os muitos sacrifícios pessoais que passou ao longo destes oito anos. Esta é uma etapa da vida que se encerra e que encerro de cabeça erguida, de consciência tranquila e a mesma determinação de servir Portugal e os portugueses exatamente da mesma forma como no dia em que aqui entrei pela primeira vez como primeiro-ministro", acrescentou o primeiro-ministro demissionário.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) tinha confirmado, ao início da tarde, que o chefe de gabinete do primeiro-ministro, Vítor Escária, o presidente da Câmara de Sines, Nuno Mascarenhas, dois administradores da sociedade Start Campus, responsáveis pela criação de um data center em Sines, e um consultor -- identificado pelos media como sendo o "braço-direito" de Costa, Lacerda Machado -- foram hoje detidos no âmbito do inquérito dirigido pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) aos negócios do lítio em Montalegre e do hidrogénio verde em Sines.
Nestes casos, a PGR considera que se verificam "os perigos de fuga, de continuação de atividade criminosa, de perturbação do inquérito e de perturbação da ordem e tranquilidade públicas".
No mesmo comunicado, confirma-se que o ministro das Infraestruturas, João Galamba, foi constituído arguido pelo Ministério Público (MP), tal como o presidente do Conselho Diretivo da Agência Portuguesa do Ambiente, Nuno Lacasta, no âmbito desta mesma investigação.
De acordo com a PGR, estarão em causa suspeitas dos crimes de prevaricação, de corrupção ativa e passiva de titular de cargo político e de tráfico de influências.
Na mesma nota, é indicado que o primeiro-ministro é alvo de uma investigação autónoma do Ministério Público num inquérito instaurado pelo STJ.
[atualizado às 15h13]