“Penso que este encontro é sempre um bálsamo em todos os países onde aconteceu, nas circunstâncias e nos contextos onde aconteceu. E acredito também que para o nosso querido Papa Francisco e para as queridas vítimas que terão essa oportunidade, será um bálsamo naquilo que é o caminho que está a ser feito e que continuará a ser feito na Igreja Portuguesa e na Igreja Universal”, responde D. Américo Aguiar quando questionado sobre o possível impacto dessa reunião nas próprias vítimas.
O bispo auxiliar de Lisboa insiste que é essencial “colocar as vítimas no lugar principal que merecem” com a consciência de que “a dor não prescreve” num contexto de “tolerância zero, da transparência total e da prevenção do caminho a fazer” que terá que ser feito “uns com os outros”.
Não perder a gente que construiu a Jornada
A poucas semanas do consistório que o fará Cardeal, D. Américo Aguiar apela aos “responsáveis pastorais das comunidades portuguesas, das dioceses, das paróquias, das vigararias e dos movimentos” para que aproveitem as dezenas de milhar de jovens e adultos que contribuíram para a Jornada Mundial da Juventude.
“Muitos deles não são as pessoas do quotidiano das comunidades. Nem eram acólitos, nem eram leitores, nem eram catequistas. São pessoas que se sentiram desafiadas, convidadas, curiosas por aquilo que significa, quer o convite do Papa Francisco, quer a Jornada propriamente dita. E nós não podemos perder esta gente”, apela o bispo auxiliar de Lisboa que define a JMJ como “uma espécie de desfibrilador das nossas comunidades”.
D. Américo Aguiar diz “não ter dúvida nenhuma” de que a Igreja portuguesa precisava do “choque” desta Jornada Mundial da Juventude, lembrando os impactos negativos do confinamento, sobretudo expondo “fragilidades” nalgumas comunidades. Ao percorrer o país na Peregrinação dos Símbolos da JMJ, o bispo auxiliar de Lisboa concluiu que “o Portugal real é muito melhor que o Portugal mediático”.
Evangelizar com todas as sílabas na JMJ
Nesta entrevista à Renascença, D. Américo Aguiar queixou-se de ter sido mal interpretado quando, no início de julho, uma passagem de uma entrevista à RTP mereceu múltiplos comentários nas redes sociais e em órgãos de comunicação sociais de inspiração católica. “Nós não queremos converter o jovem a Cristo nem à Igreja Católica nem nada disso, absolutamente”, disse então ao canal público de televisão. O bispo auxiliar de Lisboa clarifica que a pergunta foi feita no contexto da presença de jovens das outras religiões na Jornada Mundial da Juventude.
“ Eu respondi que obviamente que não os quero converter, como é óbvio. Isto seria um proselitismo. O que quero é que os jovens testemunhem Cristo Vivo aos outros, mas que também aprendam dos jovens das outras religiões aquilo que é o testemunho da fé deles e que todos juntos nos respeitemos, que nos conheçamos e construamos o mundo em conjunto, como o Papa nos pede”, declarou na entrevista registada no edifíco-sede da Jornada Mundial da Juventude.
D. Américo salienta que o ecumenismo e o diálogo inter-religioso “ não são oportunidades de deve e haver, de conquista de militantes ou conquista de homens e mulheres que queremos "roubar" uns aos outros”, mas sim a partilha de homens e mulheres que dão testemunho da sua fé. O presidente da Fundação JMJ pretende que a Jornada interpele os jovens “que não conhecem Cristo e a Igreja, que não têm uma transcendência no seu coração “ para que se interroguem sobre “as razões da nossa alegria” como cristãos.
“ Desde a primeira hora que o Papa diz que a Jornada é "e-van-ge-li-za-ção". Obviamente ! Agora não é "rachar a cabeça" das pessoas e meter-lhes lá dentro seja o que seja, e convertê-los à força, seja lá o que for. É acolher fraternalmente a todos, dar testemunho da fé. Isto é a evangelização. As conversões, essas acontecem no coração de cada um”, remata D. Américo Aguiar.