O secretário-geral do PCP acusa o Governo de apresentar um programa "de fraude", sublinhando que as "grandes preocupações que tinha com a carga fiscal" só se traduziram numa redução do IRC para os grandes grupos económicos.
Num discurso na "Festa da Juventude. Mais Abril", em Lisboa, Paulo Raimundo defendeu que o programa do Governo é "do engano, do embuste, da fraude", desde logo no que se refere às suas "propostas e medidas fiscais, em particular no que diz respeito ao IRS".
"É tal e qual como nós afirmámos que iria ser: grandes parangonas, grandes anúncios de redução do IRS, grandes preocupações com a carga fiscal, mas, depois de tudo espremido, a montanha o que pariu foi a redução do IRC para as grandes empresas e para os grandes grupos económicos", criticou.
Para o líder do PCP, o executivo trabalha "para os donos disto tudo, para os grandes grupos económicos", a quem "aquilo que é prometido é sempre devido".
"Para esses, não há contas erradas, não há dificuldades. Para esses, é só benesses. A única coisa que queriam de facto quando falam em impostos era reduzir o IRC para as grandes empresas", acusou.
Paulo Raimundo defendeu que o programa do executivo é também "um verdadeiro movimento de atirar areia para os olhos", porque o que se impõe atualmente é "o aumento geral e significativo dos salários", "exatamente aquilo que os grupos económicos, os tais que se acham donos disto tudo, os que de facto mandam no Governo, não querem".
"Fez-se muita brincadeira com uma afirmação que eu fiz, mas eu vou voltar a ela, pode ser que façam menos brincadeira agora. É que a única forma de aumentar salários é aumentando os salários. Não há medidas fiscais, não há baralhadas, não há trapacices que resolvam isto", sustentou.
O secretário-geral do PCP sublinhou que o programa é também "um engano declarado à juventude", considerando que só oferece "mais exploração, mais precariedade, mais instabilidade, mais insegurança e mais um apelo à emigração forçada" para as gerações mais novas.
"Há uma pequeníssima parcela de jovens que vai ganhar com as medidas avançadas pelo programa de Governo, desde logo esses jovens que se sentam nas mesas das administrações das grandes empresas dos grandes grupos económicos. Esses sim, vão ser alvo benéfico das medidas do Governo", afirmou.
Paulo Raimundo defendeu que a medida do IRS Jovem apresentada por este executivo é "uma falácia, sem impacto na imensa maioria dos jovens, desde logo diretamente nos 35% dos jovens trabalhadores que ficam fora" da medida.
"Mas aqui fica o desafio ao Governo para vir dizer quantos jovens são efetivamente abrangidos por aquela suposta redução da taxa de IRS para a juventude. Eles que digam quantos jovens são de facto abrangidos por essa medida, para se perceber a falácia", pediu.
Para o líder do PCP, "a receita do Governo é a redução do IRC para as grandes empresas mascarada com uma suposta redução de IRS para os jovens".
Segundo Paulo Raimundo, para se garantir perspetivas de futuro aos jovens, "o que é preciso é mais salários, o fim da precariedade, é preciso garantir o direito à habitação com medidas que se reflitam já no dia-a-dia dos jovens, e não no dia-a-dia da banca e dos seus lucros".
"É preciso acabar de uma vez por todas com a lei dos despejos. Mas, sobre isto, o Governo zero ou, como dizia o outro, bola. Nada sobre esta matéria", criticou.
Paulo Raimundo reiterou que, da parte do PCP, só se pode contar com um "firme combate" à política de direita, salientando que isso se expressou "desde o primeiro minuto" com a moção de rejeição que apresentou ao programa do Governo, que foi chumbada esta sexta-feira no parlamento.
"Uma moção de rejeição que deixou claro quem é apoio ao Governo e quem está disponível para lhe dar a mão", frisou, numa alusão ao Chega, IL e PAN, que votaram contra a iniciativa, e ao PS, que se absteve. PCP, BE e Livre votaram a favor.