Cerca de metade da população da União Europeia pode ter sido exposta a desinformação promovida por contas em redes sociais ligadas à Rússia ao longo dos últimos meses e antes das eleições europeias que vão disputar-se no final de maio.
Durante uma investigação conduzida por uma empresa de cibersegurança entre 1 e 10 de março, cujos resultados foram divulgados esta quarta-feira por jornais como o britânico "The Guardian", foram recolhidas provas de que 6.700 "atores malignos" criaram conteúdos falsos que terão alcançado até 241 milhões de cidadãos europeus.
Esses conteúdos, apontam os investigadores, foram criados de forma a amplificar os medos e problemas que dominam cada Estado-membro da UE, ou seja, os autores das chamadas "fake news" criaram narrativas individuais para cada Estado-membro.
Os autores do relatório encontraram provas concretas de que os conteúdos falsos que foram produzidos abordaram questões como o controverso acordo de Brexit alcançado por Theresa May em Bruxelas e que o Parlamento britânico chumbou por três vezes desde o início do ano.
A desinformação foi disseminada quer através de bots automatizados, que foram programados para detetar informações específicas na internet, quer manualmente por humanos que, por vezes, recorreram a software para comunicarem através de múltiplas contas ao mesmo tempo, na tentativa de evitarem a deteção de algoritmos pelos bots.
O estudo foi desenvolvido pela empresa de cibersegurança SafeGuard Cyber, que diz ter uma base de dados com informações sobre mais de 500 mil contas de trolls e de bots. Os investigadores garantem que o que detetaram na sua última investigação é fruto do trabalho da Rússia, uma informação que o "Guardian" diz não conseguir verificar de forma independente.
Julian King, comissário europeu para a Segurança, diz que os resultados deste estudo "salientam os perigos da desinformação online".
"Atores maliciosos, quer estatais quer não-estatais, não vão hesitar em usar a internet para tentarem influenciar e interferir nos nossos processos democráticos", ressalta. "Alcançámos muito no último ano no nosso trabalho para combater esta ameaça. Mas ainda há muito por fazer por todas as partes, incluindo pelas grandes plataformas cibernéticas -- é vital garantir a segurança das nossas eleições."
Otavio Freire, cofundador da SafeGuard Cyber, garante que "a escala do problema é tremenda".
"O aumento das campanhas de desinformação é ajudado pelo facto de ser incrivelmente difícil travar esta disseminação em plataformas sociais. Os atores malignos aperceberam-se de que atacar as infraestruturas eleitorais e atacar a percepção da realidade e dos factos são as derradeiras táticas para conseguirem o que querem."