“O que me espanta é a Esperança”. É este o mote da edição deste ano do Meeting Lisboa, organizado pelo movimento Comunhão e Libertação e que decorre entre 11 e 12 de novembro na Gare Marítima de Alcântara, em Lisboa.
Para este ano, a organização decidiu focar-se na Esperança, a partir do trabalho da Associação Memorial, uma organização cristã russa que se dedica à defesa dos direitos humanos e que foi banida pelas autoridades do país depois de se posicionar contra a invasão da Ucrânia.
Catarina Almeida, membro da organização, explica à Renascença que o evento quer destacar “o contributo cultural e social desta Organização Não-Governamental para a paz, que até já a fez ganhar o Prémio Sakharov e o Prémio Nobel da Paz no ano passado”, mas também promover a harmonia nos tempos atuais. A representante relembra “as circunstâncias que estamos a viver, neste mundo com várias guerras” e acrescenta que o Meeting Lisboa também quer ajudar a construir uma “paz mais verdadeira para as pequenas guerras que vivemos diariamente e que nos faz sermos violentos uns com os outros”.
A frase que lança o evento é adaptada de uma citação do escritor francês Charles Péguy – “O que espanta, diz Deus é a Esperança. E disso não me canso” – e que, para Catarina Almeida, “reflete bem” os objetivos do Meeting Lisboa, desde que começou em 2012.
“Há 11 anos que queremos ser um espaço de diálogo e de encontro. Para nós, o fundamental é procurarmos na experiência de toda a gente os pontos de bem, beleza, verdade e justiça. No fundo, o que anima o coração do ser humano, mas de um ponto de vista cultural”, explica a responsável.
Durante os dois dias, a Gare Marítima de Alcântara vai acolher várias exposições, com destaque para “Homens, apesar de tudo: histórias do Memorial”. Organizada pela Fundação Rússia Cristã e pela Associação Memorial, a exposição conta com fotografias de elementos de prisioneiros de Gulags na era Estalinista da União Soviética. No domingo, 12 de novembro, Elena Shemkova, cofundadora da Associação Memorial, e Marta dell’Asta, da Fundação Rússia Cristã, discutem o mesmo tema, num debate moderado pelo médico Pedro Caiado Ferreira.
O programa do Meeting Lisboa conta ainda com a peça de teatro “A Criação começa amanhã de manhã”, que celebra os 150 anos do nascimento de Charles Péguy e que vai honrar a vida e a obra do escritor francês.
“Enquanto houver Humanidade, há esperança”
A sessão de apresentação do Meeting Lisboa 2023, ocorrida na tarde desta terça-feira nos Paços do Concelho em Lisboa, abriu com uma intervenção da professora universitária e investigadora em ciência política e relações internacionais, Lívia Franco, que percorreu a história e papel da Associação Memorial, desde a Perestroika aos dias de hoje – “um autêntico exemplo de esperança num tempo marcado pelo pessimismo da guerra, muito destacado pelos media”.
À Renascença, a também investigadora destaca que esta associação trabalha a memória de uma forma “independente, sem ceder a punhos ideológicos” e apenas com vontade de “recuperar as ações das vítimas”. Lívia Franco diz ainda que a Memorial deixa contributos importantes para os conflitos atuais.
“Num mundo com dois conflitos recheados de violência – no Médio Oriente e na Ucrânia –, esta ONG mostra-nos que as provas ficam sempre e que conseguimos comprovar a verdade. Não porque estamos de um lado ou do outro de uma guerra, mas simplesmente porque a Humanidade tem de ter regras para conseguir sobreviver – e a convivência pacífica é uma delas”, explica a especialista.
A jornalista Helena Matos também participou na apresentação do Meeting Lisboa 2023 e garantiu que, apesar dos “tempos conturbados”, se sente numa “época de esperança”.
“Quando nos perguntamos “o que é que fez as pessoas resistir em tempos tão difíceis?”. A resposta é a esperança. Enquanto houver Humanidade, há esperança. (…) Mas a esperança, atualmente, é uma esperança diferente da dos anos 1980: nessa altura, achava-se que o futuro ia ser sempre melhor. Hoje não, hoje já sabemos que o mundo pode piorar”, analisa a também escritora.
A par da esperança, Helena Matos destacou ainda a importância da memória, que traz um “importante sentimento de pertença e de continuidade”, tal como exemplificado pelo trabalho da associação Memorial. A jornalista critica, porém, que se utilize o passado como um “instrumento ideológico”: “faz-nos analisar os assuntos aos retalhos, ignorar a importância do presente e perder a continuidade da memória”, considera.