Os trabalhadores portugueses estão preocupados com o futuro dos seus locais de trabalho. Depois de mais de um ano em que muitos estiveram a trabalhar a partir de casa, os portugueses são dos que mais se preocupam com o ambiente e as condições do trabalho presencial, de acordo com um estudo divulgado esta quinta-feira pelo Institute of Business Ethics, em parceria com a Católica Porto Business School, feito com base em questionários a mais de 10 mil trabalhadores em 13 países diferentes.
Só na África do Sul é que os trabalhadores revelam maiores níveis de preocupação do que os portugueses, dos quais 61% dizem temer a degradação das relações interpessoais por causa do confinamento.
Mais grave, para os trabalhadores portugueses, é o perigo do mau uso da Inteligência Artificial ou a questão da discriminação no local de trabalho, com 64% a mostrar-se preocupado com cada uma dessas questões, mais do que três vezes os níveis da Alemanha, que tem os índices mais baixos dos 13 países incluídos no estudo.
Os portugueses são também os que mais se queixam de terem sofrido pressão para violar as normas de conduta ética laboral. No total 21% dos trabalhadores portugueses responderam afirmativamente a esta pergunta, 10 pontos percentuais acima da média de 11%. Na Suíça apenas 3% sentiram essa pressão. Segundo o estudo, a principal preocupação dos trabalhadores portugueses a este respeito prende-se com pressões a nível de horário e para cumprimento de prazos irrealísticos.
O estudo revela, contudo, que os portugueses são os mais rigorosos no que diz respeito às violações das normas éticas no trabalho, pontuando acima dos seus pares em todas as categorias, desde a condenação ao assédio sexual ao uso de impressoras para fins pessoais. Os mais relaxados a este respeito são os franceses, sendo que do total dos trabalhadores entrevistados para este estudo 6% consideram aceitável abordar sexualmente um colega e 46% não veem qualquer problema em usar uma impressora para fins pessoais.
No geral, todos os países tiveram pontuação alta quando questionados sobre se a honestidade impera no seu local de trabalho. Portugal está abaixo da média, mas ainda assim 84% dos inquiridos responderam que sim, numa lista chefiada pela Suíça, com 91%. A Holanda está no final da tabela, com 80%.
Os autores do estudo procuraram ainda saber até que ponto os trabalhadores apresentam reclamações por violações de condutas éticas. Nessa questão Portugal também se encontra abaixo da média. Só os suíços, com 41%, se queixam menos que os portugueses, 46%, sendo que estes últimos são os que mostram menos satisfação com o resultado das queixas, tendo apenas 45% dito que os resultados foram positivos, enquanto que nos EUA a percentagem é de 75% e a média dos 13 países é de 62%.
Mais grave é o facto de, em média, 43% dos inquiridos terem dito que sofreram represálias depois de se queixarem de violações de normas de conduta ética no local de trabalho. Portugal regista 42% neste tópico, com França a encabeçar a lista com 60% e a Suíça no final da tabela, com 28%.
Questionados mais diretamente sobre as razões pelas quais não agiram para reclamar de violações de normas éticas, 47% desculpam-se com a ideia de que nada seria feito e 31% dizem temer perder o emprego. Há ainda 21% que dizem que não querem ser vistos como problemáticos e 22% consideram que não têm nada a ver com o assunto. Só 18% dizem que não sabiam quem contactar.
Este último dado é indicativo da ausência de conhecimento revelada pelos portugueses quanto à existência e funcionamento de programas de ética nas empresas, ou de mecanismos de queixa sigilosa e formação no campo da ética. Em todas as questões colocadas sobre estes assuntos os portugueses estão abaixo da média.
O estudo sobre ética no local de trabalho é feito anualmente há vários anos. Em Portugal o parceiro do Institute of Business Ethics é a Católica Porto Business School.