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A Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros avisa o Governo para o risco de surgirem formas de luta "mais incontroláveis" que não sejam suportadas por sindicatos, considerando que os enfermeiros não ficarão serenos face à decisão de requisição civil.
A presidente da ASPE, Lúcia Leite, rejeita os fundamentos para a requisição civil decidida esta quinta-feira em Conselho de Ministros e considera que o Governo “optou por um caminho que parece fácil, mas que lhe pode trazer dificuldades bem maiores no futuro”.
“Não acredito que os enfermeiros, depois de verem como os governantes os desrespeitam, vão ficar serenos com esta decisão”, declarou Lúcia Leite à agência Lusa, indicando que o sindicato ainda vai analisar o alcance da requisição civil “antes de tomar decisões”.
Ainda assim, a presidente da ASPE diz que teme que “possam aparecer outras formas de luta suportadas em movimentos inorgânicos”, formas essas que possam ser “mais incontroláveis”.
“Mas estou de consciência tranquila. Avisei a senhora ministra da Saúde sobre esse risco”, disse.
A presidente da ASPE entende que a fundamentação para a requisição civil “está ferida de verdade” por se basear num incumprimento dos serviços mínimos que “não aconteceu”.
Em declarações à Lusa, Lúcia Leite considerou que “o incumprimento dos serviços mínimos é falso” e que o Governo usou estratégias para “ficcionar factos”.
O Governo decidiu hoje decretar requisição civil na greve dos enfermeiros por considerar que houve incumprimento dos serviços mínimos.
“Foram deliberadamente agendados doentes a mais do que era possível [atender] até em funcionamento normal e temos alguma demonstração disso. Há situações em que os doentes agendados ultrapassam a capacidade dessa sala mesmo não estando em greve”, referiu Lúcia Leite.
A ASPE foi um dos dois sindicatos que decretou a “greve cirúrgica” dos enfermeiros, que decorre em blocos operatórios.
Esta segunda fase de greve começou há uma semana e devia prolongar-se até final do mês. No final do ano passado, uma greve de mais de um mês nos blocos operatórios de hospitais públicos levou ao cancelamento ou adiamento de mais de 7.500 cirurgias.