Coronavírus. Português em Wuhan diz que "a situação começa a normalizar"
09-03-2020 - 19:07
 • Pedro Mesquita com Renascença

João Pedrosa, um dos poucos portugueses que não quis ser repatriado de Wuhan, lembra à Renascença que o número de mortos e de novos infetados é cada vez mais "residual". E que dos 14 hospitais de quarentena construiídos em todo o país para enfrentar o pico do Covid-19, "11 já foram encerrados e ficaram só dois ou três como prevenção".

Um mês e meio depois do primeiro caso confirmado de Coronavirus, a China regressa agora, aos poucos, à normalidade. O número de infetados e de mortos caiu de forma acentuada nos últimos dias. A China foi já ultrapassada por Itália, que é agora o principal foco de Covid-19 à escala global.

A Renascença entrevistou um português que se encontra em Wuhan e este descreve um cenário de normalização progressiva na China. É verdade que em Wuhan a quarentena ainda se mantém apertada, mas o numero de vitimas – de infetados e mortos – registou, nos últimos dias, uma quebra muito significativa em toda a China, incluindo a região mais afetada: a província de Hubei. É o que indica João Pedrosa, um dos poucos portugueses que não quis ser repatriado de Wuhan.

“Os casos estão significativamente a diminuir. É o segundo dia em que se registam valores muito baixos. Os casos praticamente são todos aqui de Hubei. Fora já não há casos. Hoje penso que houve dois casos fora de Hubei ou de Wuhan, mas foram casos ‘importados’. Uma morte é sempre uma morte, ou seja, é um número sempre elevado, mas o número de mortes penso que anda à volta dos 20 – e os casos de infetados anda à volta dos 40. Os números já começam a ser residuais”, explica.

Em tempo recorde, ao longo desta crise, a China não se limitou a impor a quarentena a muitos milhões de pessoas; construiu também 14 hospitais, em todo o país, para enfrentar o pico do Covid-19. Destes 14, o país já descativou 11 nas últimas horas. “Onze desses hospitais de quarentena foram hoje encerrados, sim. Portanto, ficaram só dois ou três, só como prevenção”, adianta João Pedrosa.

E é sobretudo por prevenção que, em Wuhan, a população permanece em casa, apoiada por uma rede de 40 mil voluntários, médicos e militares. Só esses se movimentam ainda nas ruas da cidade, para evitar nova “explosão” da doença.

Em Wuhan persistem muitas restrições, as pessoas continuam em quarentema e a economia permanece parada mas, no resto do país, o cenário é bem diferente. As restrições estão a ser gradualmente levantadas e a situação aproxima-se já da normalidade. O principal motor do mundo, as fábricas chinesas, já aceleram de novo. Na província de Hubei ainda não, mas no resto do país a maior parte das fábricas já recupera o tempo perdido e labora a quase 100 por cento.

“Fora de Wuhan e fora de Hubei a situação começa a normalizar. Tenho informação de que alguns colegas já estão a trabalhar a 100 por cento ou perto disso. As fábricas já quase todas a retomar à normalidade. Claro que não devem estar a 100 por cento, isto está tudo interligado, mas muitas delas já retomaram a atividade quase por complete”, explica João Pedrosa, um dos poucos portugueses que decidiu manter-se em Wuhan e que, ao fim de um mês e meio de coronavírus, testemunha o regresso gradual à normalidade na China.

A epidemia de Covid-19 foi detetada em dezembro, na China, e já provocou mais de 3.800 mortos. Cerca de 110 mil pessoas foram infetadas em mais de uma centena de países, e mais de 62 mil recuperaram. Nos últimos dias, a Itália tornou-se o caso mais grave de epidemia fora da China, com 366 mortos e mais de 7.300 contaminados pelo novo coronavírus, que pode causar infeções respiratórias como pneumonia.