O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou este sábado, no Porto, que "homenagear o Portugal feito, ainda hoje, tal como nasceu, a partir do Norte, é homenagear Agustina" Bessa-Luís, numa sessão de homenagem na Fundação de Serralves.
"Homenagear o Portugal iconoclasta, homenagear o Portugal ecuménico, universal, mas ligado às raízes, homenagear o Portugal feito, ainda hoje, tal como nasceu, a partir do Norte, é homenagear Agustina", disse hoje Marcelo Rebelo de Sousa na sessão de abertura das comemorações do centenário de Agustina Bessa-Luís no Porto. .
Segundo o chefe de Estado, "também isso o Presidente da República tem a agradecer a Agustina Bessa-Luís", disse no encerramento da sessão, a que se seguiu a inauguração da exposição "Uma Exposição Escrita: Agustina Bessa-Luís e a Coleção de Serralves".
Hoje, em Amarante, já se tinham iniciado as comemorações do centenário da escritora, natural de Vila Meã, naquele concelho do distrito do Porto, mas que viveu décadas na capital distrital.
No seu discurso na Fundação de Serralves, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que era seu papel estar presente, "em Amarante como no Porto, para homenagear o Portugal iconoclasta, que existe, no fundo, em cada português, mesmo quando só visível em grandes lances coletivos".
Marcelo Rebelo de Sousa iniciou a sua intervenção citando o início da obra de 1979 Fanny Owen, em que se lê que "o rio Douro não teve cantores", ao contrário do Mondego ou o Tejo.
"Note-se como alguém que cantou o Douro - embora, claro, a palavra adequada seja talvez outra - se queixa de que o Douro não teve cantores", assinalou o Presidente da República.
Marcelo Rebelo de Sousa vincou, assim, a maneira como Agustina "escreve frases definitivas sobre particularidades locais", ou como "exagera sem exagerar, sendo inconveniente de uma forma, ainda assim, cordata". .
"Como faz pouco e como elogia. Como nota a desmesura entre os lugares e os seus cantores, museus de fracas musas, a que chama mimosas e não ardentes. Ou seja, em tudo diferentes do que Agustina foi e do que escreveu", disse o chefe de Estado.
Para Marcelo, tendo Agustina "nascido em Vila Meã, Amarante, e vivido décadas sem fim no Porto, não há dúvida que se identificou com estes lugares e com o espírito dos lugares".
O Presidente da República recordou ainda o coração mencionado em Fanny Owen, comparando-o com o episódio coração de D. Pedro IV e da sua viagem para a comemoração dos 200 anos da independência do Brasil, e "das emoções contraditórias que ainda suscita".
"Que romance teria Agustina escrito sobre o coração de D. Pedro, que o deixou ao Porto, e as suas vicissitudes no ano de 2022? Que perturbação regional, patriótica, ideológica ou dissonante causa um coração, que não causaria uma espada ou uma coroa, ou um tinteiro?", questionou Marcelo Rebelo de Sousa.
O Presidente da República disse que o dia de hoje, em que se assinala o centenário do nascimento de Agustina Bessa-Luís, é um dia "nunca terminado, porque Agustina nunca termina".
O centenário do nascimento de Agustina Bessa-Luís comemora-se hoje, em várias cidades do país, com um conjunto de iniciativas destinadas a valorizar e promover o legado artístico e cultural, assim como os vínculos territoriais, da escritora.
Os principais eixos do programa, que arrancaram hoje em Amarante e se prolongam até outubro de 2023, centram-se, em especial, no roteiro dedicado aos lugares de Agustina, que nasceu em Amarante, viveu no Porto e tem uma forte ligação ao Douro e ao Minho.