Os católicos portugueses vão poder participar presencialmente nas celebrações pascais, ao contrário do ano passado, mas ainda assim sujeitas a algumas alterações para evitar o perigo de contágios.
Também ao contrário do que se passou em 2020, este ano o Governo não proibiu as celebrações religiosas com público, mas a Conferência Episcopal assumiu ela própria a responsabilidade de, numa primeira fase, interromper as celebrações públicas e, após a sua reabertura, impor algumas restrições.
Assim, para além dos limites à lotação das igrejas e outras normas recomendadas pela DGS, decidiu-se que certos momentos das celebrações do Tríduo não serão aplicadas este ano, como por exemplo o tradicional “lava-pés” da Missa de Quinta-feira antes da Páscoa e o “ósculo” da Cruz, nas celebrações de Sexta-feira Santa.
As procissões e vias-sacras com a presença de fiéis também foram suprimidas.
Compasso, este ano, vai ser de espera
Uma das tradições pascais que mais falta vai fazer a muitos portugueses é o Compasso Pascal, a visita que o pároco faz às casas dos seus paroquianos, para marcar a Páscoa e abençoar a família.
Trata-se de uma tradição mais viva no norte e nos meios rurais, mas que marca o ano de muitas comunidades. Este ano, porém, não vai poder realizar-se, pelo menos não nos moldes habituais.
“O compasso pascal tem na sua génese o dever do pároco visitar as suas famílias e fazer a bênção da família no próprio lar. Entre nós isso traduziu-se no Compasso Pascal”, explica o cónego Avelino Amorim, diretor da comissão da Semana Santa de Braga, arquidiocese conhecida pelas suas celebrações pascais.
“Algumas comunidades farão a bênção da Família nas celebrações, em que é possível celebrar a eucaristia, mas também há algumas comunidades que estão a usar os meios telemáticos para poderem viver a Páscoa, cada um em sua casa, mas com um momento de convívio, de partilha da alegria da fé na Ressurreição e também com um momento de oração.”
O padre Nuno Rosário Fernandes, de Lisboa, diz também que o importante é que haja criatividade por parte dos párocos. “Acredito que os pároco consigam, com a sua criatividade, chegar junto das suas comunidades de outra forma. Mas de facto é importante todo este esforço que estamos a fazer e é muito sacrifício, mas graças a Deus podemos celebrar este ano a Páscoa com as comunidades.”
“Pessoalmente, não acreditava que viesse a ser possível e, por isso, sinto que é um dom muito grande a possibilidade que este ano temos, porque não apenas para as comunidades há um sofrimento, mas também para todos os pastores, o facto de celebrarem a Páscoa sozinhos, como aconteceu o ano passado, é algo que também traz a sua dificuldade e não é normal que assim aconteça, porque a Páscoa é um momento grande da comunidade, de toda a comunidade reunida, e por isso damos graças a Deus porque este ano isso vai ser possível”, diz o sacerdote, que é diretor de comunicação do Patriarcado de Lisboa.
Investir na formação, para melhorar a procissão
Todos os anos Braga costuma ser centro de peregrinação para milhares de fiéis e de turistas que acorrem à cidade para assistir à programação das celebrações da Semana Santa.
Entre as atrações encontram-se as procissões que, este ano, foram todas suspensas.
Contudo, a arquidiocese valeu-se precisamente da criatividade para encontrar uma solução.
“O que estamos a fazer desde o Domingo de Ramos, e faremos a cada um dos dias, e no horário próprio de cada uma das procissões, é uma emissão em direto a partir do local, das igrejas de onde parte cada uma destas procissões, uma transmissão em direto com alguns convidados, onde procuramos abordar a história, a catequese, os principais quadros e figuras que compõem cada uma das procissões”, afirma o diretor da comissão da Semana Santa de Braga.
“O objetivo é: uma vez que não podemos realizar as procissões e as pessoas não podem participar, podemos pelo menos ajudar as pessoas a compreender melhor as diversas dimensões de cada uma dessas procissões, o que tem também um aspeto positivo, que é que no próximo ano, em que esperamos já poder fazer as procissões, essa assistência poderá fazer-se com melhor leitura das diferentes dimensões. E tem tido uma aceitação muito grande e um feedback muito positivo”, diz o cónego Avelino.
O Tríduo Pascal abrange os dias de Quinta-feira a Sábado à noite da Semana Santa, sendo que a Páscoa se começa a celebrar a partir de sábado à noite, com a Vigília Pascal. Trata-se do ponto alto do calendário da Igreja Católica, em que se celebra a Morte e Ressurreição de Jesus Cristo.