O líder dos populistas eslovacos, Robert Fico, vencedor das eleições legislativas de 30 de setembro, anunciou esta quarta-feira um acordo com a extrema-direita e com um partido de esquerda para a criação de uma coligação governamental.
Segundo analistas, o Governo que resultará desta coligação deverá mudar radicalmente a política externa da Eslováquia, uma vez que Robert Fico, que irá ocupar o cargo de primeiro-ministro pela quarta vez, já admitiu querer acabar com o apoio militar à Ucrânia.
"Concordámos em formar um Governo em conjunto" com a extrema-direita e um partido de esquerda, disse hoje Fico à imprensa.
"Esta é a base do acordo de coligação, que queremos concluir o mais rapidamente possível", referiu, acrescentando que "os nomes e ministérios específicos serão incluídos no acordo de coligação" e a lista de ministros "será apresentada à Presidente em breve".
Como resultado das legislativas, o Smer-SD, do primeiro-ministro designado Robert Fico, obteve 23% dos votos, derrotando o partido centrista Eslováquia Progressista (PS, 18%).
O partido de esquerda Hlas-SD, formado em torno de dissidentes do Smer, obteve 27 assentos parlamentares. O partido é liderado por Peter Pellegrini, que se tornou primeiro-ministro em 2018, quando Fico foi forçado a demitir-se na sequência de protestos a nível nacional após o assassinato do jornalista de investigação Jan Kuciak e da sua noiva.
Os dois partidos vão aliar-se ao partido nacionalista SNS, que ficará com 10 deputados, conseguindo assim uma maioria de 79 (do total de 150) assentos no parlamento.
Durante a campanha eleitoral, Robert Fico, de 59 anos, prometeu que a Eslováquia não enviaria "nem mais uma bala" para a Ucrânia e disse que ia melhorar as relações com a Rússia.
No dia seguinte às eleições, afirmou que o seu país, de 5,4 milhões de habitantes, tinha "problemas mais importantes" do que dar ajuda à Ucrânia.
Até agora, a Eslováquia, membro da União Europeia (UE) e da NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte), era um doador europeu significativo para a Ucrânia, canalizando uma fatia importante da riqueza produzida (PIB) para aquele país.
"Acreditamos que a Ucrânia é uma enorme tragédia para todos. Se o Smer-SD for incumbido de formar Governo, faremos o nosso melhor para organizar conversações de paz o mais rapidamente possível", disse na altura.
"A proteção da soberania e dos interesses nacionais da Eslováquia será a prioridade do Governo", sublinhou, adiantando querer também proteger o país contra a migração ilegal que tem aumentado recentemente na Europa.
Ainda assim, o líder do Smer garantiu que quer que a Eslováquia continue a ser membro da UE e da NATO.
Os críticos de Fico temem que o seu regresso ao poder possa levar a Eslováquia a abandonar o seu rumo e passar a seguir o caminho da Hungria, sob o primeiro-ministro Viktor Orbán, e, em menor medida, o da Polónia, sob o partido Lei e Justiça, dois países que se têm afastado do apoio à Ucrânia.
Embora não haja ainda data para a Presidente, Zuzana Caputova, empossar o novo Governo, Fico disse esperar representar a Eslováquia na próxima cimeira dos líderes dos países membros da União Europeia, marcada para o final deste mês.