Luiz Inácio Lula da Silva concedeu, esta sexta-feira, uma entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da CNN, durante a sua deslocação a Washington, onde afirmou que as divisões que afetam o seu país não são piores do que a divisão política nos Estados Unidos da América (EUA).
Quer Lula da Silva, quer o seu homólogo norte-americano, Joe Biden, com quem se encontrou esta sexta, assumiram os cargos presidenciais num cenário de denúncias infundadas de fraude eleitoral que levaram a ataques contra as sedes dos três poderes em Brasília, a 8 de janeiro, e contra o Capitólio dos EUA, a 6 de janeiro de 2021, levados a cabo por apoiantes dos seus antecessores.
“Nunca poderíamos imaginar que num país que era o símbolo da democracia no mundo, alguém pudesse tentar invadir o Capitólio”, disse o chefe de Estado brasileiro sobre os ataques perpetrados em 2021 por apoiantes do ex-presidente Donald Trump.
Lula da Silva classificou então Bolsonaro de “fiel imitador de Trump”, dizendo que ambos “não gostam de sindicatos, não gostam de trabalhadores, não gostam de mulheres, não gostam de negros”.
Contudo, o líder brasileiro disse estar convencido de que “nem todos os que votaram em Bolsonaro seguem o ‘bolsonarismo'”.
Jair Bolsonaro encontra-se desde dezembro do ano passado no estado norte-americano da Florida, tendo solicitado um visto de turista para poder permanecer por mais tempo nos EUA.
Contudo, na entrevista à CNN, Lula da Silva afirmou que “não falará sobre isso” com Biden: “Um dia ele [Bolsonaro] tem de voltar ao Brasil e enfrentar todos os processos contra si”.
Bolsonaro enfrenta “quase 12 processos no Brasil e mais casos virão”, disse Lula da Silva, acrescentando que acredita que o seu antecessor “será condenado em algum tribunal internacional por causa do genocídio face à covid-19, porque metade das mortes no Brasil foram da responsabilidade do Governo federal”.
Luiz Inácio Lula da Silva também alegou que Bolsonaro poderia ser “punido” pelos tribunais pelo “genocídio contra o povo indígena Yanomami” depois de a mineração ilegal em territórios protegidos ter disparado durante o seu mandato.
O Presidente do Brasil viajou na quinta-feira para Washington, mas a sua agenda oficial começou esta sexta-feira, com um encontro com o senador Bernie Sanders, seguindo-se reuniões com outros congressistas do partido Democrata e com um grupo de sindicalistas, ao que se seguirá o encontro com Biden na Casa Branca.
Um dos principais pontos da agenda é o facto de o Brasil e EUA enfrentarem desafios semelhantes ligados à radicalização política e ao discurso de ódio no espaço virtual, pelo que será umas das abordagens nesta que é a primeira visita de Lula da Silva a Washington desde que assumiu o seu terceiro mandato, em janeiro.
Segundo fontes oficiais, o desenvolvimento sustentável e o combate às mudanças climáticas estarão também no centro da agenda, com foco no fortalecimento de parcerias público-privadas e novos investimentos em matéria de transição energética.