O antigo primeiro-ministro Francisco Pinto Balsemão alertou hoje para o desafio de manter a democracia "viva e atuante", criticando, em concreto, o adiamento da revisão da lei eleitoral. O Presidente da República marcou presença no início da homenagem.
"O que se nota, como pano de fundo, é uma falta de crença na representatividade do sistema, incluindo os partidos e as próprias eleições. Mas, até agora, não surge alternativa", referiu, na homenagem promovida pelo primeiro-ministro em São Bento para assinalar os 40 anos do VII Governo Constitucional, o segundo da Aliança Democrática (AD) (PSD, CDS e PPM), e que foi liderado por Pinto Balsemão.
Na sua intervenção, o militante número 1 do PSD centrou-se em duas causas que têm sido centrais no seu pensamento: a defesa do papel "cada vez mais relevante" dos meios de comunicação social e a necessidade de encontrar "caminhos novos" para o exercício da democracia.
"Sei que, como estamos, com a democracia que temos no presente, não conseguiremos transpô-la, adaptá-la, mantê-la viva e atuante no futuro", alertou.
Para o antigo primeiro-ministro, é essencial que as decisões que podem salvar e dinamizar a sociedade "sejam tomadas a tempo e, sobretudo, executadas sem atrasos nem desvios pseudo-justificados pelos conservadores de todos os quadrantes, por desculpas formais e adiamentos mesquinhos".
"Pensemos, por exemplo, nas eternas e suicidariamente adiadas revisões da lei eleitoral portuguesa", afirmou, poucas semanas depois de o PSD ter apresentado uma nova proposta sobre esta matéria.
Com o líder do PSD, Rui Rio, na primeira fila, Pinto Balsemão referiu-se na sua intervenção a outro social-democrata, que assistiu à homenagem na última fila, o eurodeputado Paulo Rangel, citando o seu pensamento sobre a forma como a tecnologia obriga a repensar a democracia liberal.
No capítulo dedicado aos media, Balsemão deu um exemplo ligado ao antigo primeiro-ministro socialista José Sócrates para demonstrar a importância da credibilidade da informação.
"A história da licenciatura de José Sócrates esteve uma semana num site, mas só foi notícia depois de publicada no Público e no Expresso", referiu.
Marcelo passou pela homenagem a Balsemão
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, um dos visados na biografia política de Balsemão, marcou presença no início da homenagem ao Governo da AD.
O chefe de Estado chegou pouco antes das 17h00 e esteve reunido numa sala do Palacete de São Bento com Francisco Pinto Balsemão e a sua mulher, Mercedes Balsemão, com o antigo presidente do Governo Regional dos Açores Mota Amaral, o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, e o primeiro-ministro, António Costa.
Perto das 17h10, saíram, um por um, do interior do edifício para os jardins de São Bento. Marcelo Rebelo de Sousa aproximou-se então de Balsemão, falou-lhe ao ouvido e retirou-se logo de seguida – como tinha feito em julho de 2016, numa cerimónia semelhante, no mesmo local, para assinalar os 40 anos I Governo Constitucional, chefiado por Mário Soares.
A meio da cerimónia, no seu discurso, Francisco Pinto Balsemão saudou, "com prazer, a rápida mas simbólica visita do senhor Presidente da República", o qual foi aliás ministro do VIII Governo.