Várias centenas de trabalhadores da TAP, entre pilotos, tripulantes de cabine e técnicos de manutenção, manifestam-se esta terça-feira, em Lisboa, numa marcha silenciosa até ao Ministério das Infraestruturas, pela melhoria da qualidade do serviço e sustentabilidade da empresa.
Pelas 08:30, pilotos, tripulantes de cabine e técnicos de manutenção de aeronaves, maioritariamente fardados ou vestidos de preto e branco, começaram a concentrar-se na praça do Campo Pequeno, de onde seguiram em silêncio para o Ministério liderado por Pedro Nuno Santos, que fica próximo do local, onde vão entregar uma carta. .
Entre os cartazes levados pelos trabalhadores leem-se frases como "se agora contratam a peso de ouro, porque é que despediram?", ou "os despedimentos na TAP saem caros a todos".
Em declarações à Renascença, Tiago Faria Lopes, do Sindicato de Pilotos, pede "respeito pelos passageiros" e dá um exemplo do que diz ser a "gestão desastrosa" da companhia aérea portuguesa.
"Neste momento vendo bilhetes para Nova Iorque ou Miami a 500 ou 600 euros e sabe o que é que acontece? Os aviões ficam em 'overbooking', o que significa excesso de passageiros, e pagam aos passageiros mil euros por ficarem em terra. Parece que os passageiros são funcionários da TAP, ou seja, vão de borla e ainda recebem 400 euros."
O mesmo piloto acrescenta:
"Isto é uma gestão desastrosa e não pode continuar, a TAP é uma empresa de respeito. Quem não respeita os passageiros é a administração e isto tem de ser dito várias vezes até ouvirem."
O protesto foi convocado pelo Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), o Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) e o Sindicato dos Técnicos de Manutenção de Aeronaves (SITEMA), numa ação que dizem ser inédita.
O objetivo "é a melhoria contínua da qualidade do serviço que presta aos seus clientes e a sustentabilidade da própria empresa, mantendo os elevados padrões de segurança da operação pelos quais fomos sempre reconhecidos", dizem.
"Os trabalhadores e os passageiros estão juntos quando viajam e estão juntos nesta luta pelo alinhamento entre as opções de gestão e aquilo que o país necessita da TAP", dizem os três sindicatos, afirmando ainda que "os aviões [da TAP] não voam sem pilotos, sem pessoal de cabine e sem uma boa manutenção nem chegam a sair do chão".
Empresa em “rota de colisão”
À Renascença, Tiago Faria Lopes adiantou que a carta entregue à chefe de gabinete do ministro Pedro Nuno Santos enumera os problemas já invocados pelos trabalhadores da companhia aérea desde janeiro e pede à tutela que assuma que errou.
"O que entregámos é o que temos alertado desde janeiro: erros de gestão, aviões de carga que estão parados, pagar a empresas contratações externas para fazer serviços à TAP, o que significa menos benefícios fiscais que o país terá, não faz sentido nenhum... E pedir ao sr. ministro que assume que errou. Não vale a pena dizer que não errou porque errou, aliás, está visto que esta gestão não faz um único ato que consigamos dizer que foi um bom ato de gestão e conseguimos tomar o rumo certo para a TAP. Não o fez, não o está a fazer e temos dúvidas que assim o fará."
Na missiva, a que a Lusa teve acesso, os sindicatos dizem que os trabalhadores que representam “estão preocupados com a rota de colisão em que a atual gestão colocou a empresa”, num “ambiente de despesismo pouco ou nada auditado”.
Os sindicatos referem “a despesa com contratações externas”, os custos de “mais de um milhão de euros por mês” na conversão de aviões de longo curso em aviões de carga, “mas que nunca saíram do chão”, a mudança da sede e o “meio milhão de euros gasto no piso 5 do edifício da administração, para o transformar em andar modelo, sem utilização futura à vista”.
“A atual gestão tem mostrado várias vezes incapacidade para motivar e cativar os trabalhadores, mantendo uma postura distante e pouco consensual, ou será que as indicações para tal postura vêm da tutela, senhor ministro?”, lê-se na missiva.
Os sindicatos argumentam ainda que os trabalhadores foram “alvo de ameaças para aceitarem acordos temporários de emergência, sob pena da implementação de um regime sucedâneo”, para que fossem “aceites condições de trabalho abusivas”, sob pressupostos que consideram já não existir, uma vez que a retoma da atividade, fortemente afetada pela pandemia, está a acontecer antes do previsto.
Adicionalmente, as estruturas representativas dos trabalhadores dizem também estar preocupadas com a questão da infraestrutura aeronáutica da região de Lisboa.
“O aeroporto de Lisboa, está amplamente ultrapassado, fruto de um desinvestimento a que esteve votado durante décadas, não tendo melhorado por força do contrato de concessão que, em má hora, foi concedido a empresa cujo pensamento de desenvolvimento estratégico é bem diferente do que é o interesse nacional”, acusam as estruturas.
Os sindicatos apontam que sem uma infraestrutura adequada, “os operadores não podem aumentar a oferta e sem essa capacidade as empresas definham e os postos de trabalho escasseiam”.