Pelas 40 horas de trabalho, há enfermeiros no Hospital do Litoral Alentejano a ganhar 1.020 euros. Se a base estipulada pelo Ministério da Saúde fosse cumprida, os mesmos enfermeiros em início de carreira ganhariam 1.201 euros. As contas são do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), no dia em que estes profissionais cumprem uma greve de 24 horas na região do Alentejo.
A situação, que se regista "excepcionalmente" nesse estabelecimento hospitalar, é fruto de uma "rotatividade fora do normal", assegura Zoraima Prado, dirigente do SEP.
"Há enfermeiros que trabalham na instituição uma semana e depois a abandonam e vão para outra que lhes oferece melhores condições de trabalho, chegando ao cúmulo de haver uma enfermeira que fez um turno e não regressou a este hospital", afirma.
A situação "espelha bem a falta de condições" nos serviços no hospital do Litoral Alentejano, diz o dirigente.
Na unidade hospitalar há cerca de 160 enfermeiros, muitos com o salário abaixo do valor de referência e com ritmos intensos de trabalho. "Isto é recorrente. Temos enfermeiros a trabalhar 15 e 20 dias seguidos, que é o grande motivo da exaustão das equipas a nível hospitalar."
"Ninguém fica prejudicado com a greve"
A paralisação desta quarta-feira foi convocada pelo SEP contra a política do Governo para o sector. A greve de três dias teve início na terça-feira, na Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, e terminará na quinta-feira, no Algarve.
A greve desta quarta-feira é acompanhada de uma concentração junto ao hospital de Santiago do Cacém, marcada para as 10h30.
O protesto acontece numa altura em que milhares de veraneantes escolhem a região para passar férias. Não deve ser motivo de preocupação, assegura Zoraima Prado. "Ninguém fica prejudicado com a greve. Asseguramos todos os cuidados que a população necessite e tudo o que for urgente conta com um enfermeiro 24 horas no hospital, como em qualquer outro dia".
Na concentração estarão representadas as comissões de utentes de saúde do litoral alentejano. Responsabilizam o Ministério da Saúde pelos cortes no sector, que origina a falta de condições na prestação de cuidados aos utentes.
"Na urgência há um só enfermeiro para administrar medicamentos", conta Dinis Silva. O porta-voz das comissões de utentes acrescenta que na Unidade de Cuidados Intensivos há "menos duas camas devido à falta de enfermeiros" e que muitos destes profissionais estão exaustos e à beira "do desespero".
A Renascença tentou ouvir a administração do Hospital do Litoral Alentejano, sem sucesso.