O PSD e o PS trocaram esta quinta-feira acusações mútuas de degradação dos serviços públicos pelos respetivos Governos, com o Chega a considerar que os dois partidos têm como marca a perda de poder de compra dos funcionários públicos.
O debate parlamentar sobre a situação dos serviços públicos foi fixado pelo PSD, com o vice-presidente da bancada Hugo Carneiro a acusar o PS de, ao fim de oito anos, deixar o país "com os serviços públicos do avesso, com os profissionais altamente desmotivados e os portugueses desesperados".
O deputado apontou falhas em áreas como a saúde, a justiça ou a educação, considerando que os resultados dos alunos portugueses na avaliação internacional PISA colocam o pais "oficialmente em recessão" neste setor.
"É caso para dizer que se esta tivesse sido uma longa-metragem do cinema, o título do filme da governação do PS teria sido: "Querida, eu encolhi os serviços públicos"", ironizou.
Na resposta, a vice-presidente da bancada do PS Berta Nunes considerou que esta crítica deveria ser dirigida aos sociais-democratas, questionando "quem fechou tribunais do interior" ou "quem retirou milhares de professores do sistema".
A bancada do PSD ia respondendo "Sócrates", numa referência ao primeiro-ministro socialista que assinou o memorando da troika, mas a conclusão da socialista era Pedro Passos Coelho, com o debate a recuar ao executivo PSD/CDS-PP de 2011-2015.
"Digam claramente ao que vêm e não enganem mais uma vez os portugueses como fez Passos coelho", apelou.
Por seu lado, o líder do Chega, André Ventura, defendeu que PS e PSD "não são muito diferentes nesta matéria".
"Ambos prometeram restaurar rendimentos para os funcionários públicos e ambos resultaram em perda de poder de compra dos funcionários públicos", criticou.
Ventura citou ainda uma entrevista do presidente do PSD, Luís Montenegro, ao Eco, há quase um ano, em que considerava difícil recuperar todo o tempo de serviço dos professores, contrastando com a promessa agora feita pelo partido de recuperação integral, e desafiou o líder parlamentar do PS a "deixar falar" hoje no parlamento os ex-governantes Marta Temido e Lacerda Sales sobre o caso de alegado favorecimento no tratamento de duas gémeas no Hospital de Santa Maria.
A intervenção de Ventura levou Eurico Brilhante Dias a pedir ao presidente da Assembleia a distribuição do número de militante de PSD do agora líder do Chega quando esse partido "cortava salários e pensões", e o líder parlamentar do PSD, Joaquim Miranda Sarmento, a considerar que Ventura "ignorou as governações de José Sócrates".
O líder parlamentar da IL lamentou, tal como o Chega, a ausência do Governo deste debate e questionou, repetidas vezes, "para que pagam os portugueses tantos impostos", considerando que "a degradação dos serviços públicos é uma das marcas do Governo de António Costa".
"Na saúde, há 1,7 milhões de portugueses sem médico de família e cerca de 3,5 milhões têm seguro de saúde. Quem é que é amigo do privado, quem é?", questionou, dizendo que o fundador do SNS e socialista António Arnaut, se fosse vivo, teria vergonha da atual situação na saúde.
BE e PCP foram acusados por PSD, Chega e IL de terem sido cúmplices dos primeiros anos de governação do PS, com as duas bancadas à esquerda a questionarem o que fizeram os sociais-democratas pelos serviços públicos.
"O PSD aposta tudo na desmemória dos portugueses", acusou o bloquista José Soeiro, dizendo que o legado do partido "foi uma tragédia" de 70 mil funcionários públicos perdidos, além de cortes nos salários, dias de férias e trabalho suplementar.
Na mesma linha, o deputado do PCP João Dias avisou os deputados do PSD que, "apesar destas juras de amor aos serviços públicos, já não enganam ninguém".
"A vossa opção é privatizar os serviços públicos", considerou.
Pelo PAN, a deputada única Inês Sousa Real considerou que os últimos anos de Governo PS ficaram "aquém das metas" em áreas como a erradicação das barracas, habitação jovem e alojamento estudantil, mas desafiou o PSD a apresentar a sua visão para os serviços públicos.