“Se não fosse ele, nada disto teria acontecido”, admite Filipe Condado. O fotógrafo que inaugura este sábado na Escola do Largo, em Lisboa a exposição “Nos Passos de Etty Hillesum” explica o papel fulcral que o Cardeal D. Tolentino Mendonça teve na origem da exposição e do livro que está a apresentar.
Segundo o artista, D. Tolentino Mendonça “foi o grande mentor e impulsionador desta aventura”. Foi ele, quando era pároco da Capela do Rato, em Lisboa que convidou Filipe Condado a integrar uma viagem de “peregrinação” à Holanda, em 2017, para seguir o percurso que a escritora judia Etty Hilesum deixou gravados num diário.
Filipe Condado, explica em entrevista ao Ensaio Geral da Renascença, que D. Tolentino Mendonça teve um “dom inequívoco de encontrar o mais profundo e espiritual na vida de Etty Hilesum”. O artista revela que o papel do Cardeal foi também essencial ao catapultá-lo “para um patamar de procura e profundidade espiritual, que de outra forma não teria acontecido”.
D.Tolentino Mendonça assina também o texto de abertura do livro que é lançado este sábado às 17 horas e que reúne as imagens da exposição. “Nos passos de Etty Hilesum” é uma mostra que nasceu a partir dos diários que estão editados em Portugal pela Assírio e Alvim.
“No fundo revisitamos os sítios por onde ela andou e acompanhamos um bocadinho o percurso espiritual que ela fez. Isto é muito visível ao longo do Diário que acaba por ser o desenvolvimento deste percurso interior que ela fez e de libertação, sobretudo que a leva a encontrar a sua missão numa vida num contexto de sofrimento e perseguição que ela, e o povo judeu, viveram”, explica Filipe Condado.
O fotógrafo lembra que “Etty Hilesum era uma jovem judia holandesa que viveu em pleno período do Holocausto. Tinha a particularidade de vir de uma família, como ela dizia, disfuncional em que a mãe era extravagante, o pai era tímido e fechava-se no seu canto. Os dois irmãos mais novos eram super brilhantes, mas do ponto de vista psicológico, um desastre”.
De acordo com Filipe Condado, a escritora judia foi estudar para Amesterdão aos 18 anos. Foi então que conheceu o seu “terapeuta” que a ajudou. “Descobre que apesar de ser uma devoradora de conhecimento, não é através dessas fontes da literatura, da filosofia e do pensamento que ela encontra a paz. Ela descobre que é dentro de si mesma que o caminho tem de ser feito”.
Esta caminhada espiritual de Etty Hilesum foi fundamental para o trabalho de Filipe Condado que diz ser este o seu projeto artístico mais pessoal até hoje. A exposição que abre este sábado às cinco da tarde na Escola do Largo, no Largo do Chiado, em Lisboa vai estar patente até ao dia 22 de dezembro. Quem quiser visitar poderá marcar com o artista uma visita guiada e pessoal a esta mostra disponível, em parte no site de Filipe Condado, disponível aqui.