A acusação histórica de Donald Trump, na terça-feira em Miami, polarizou a comunicação social norte-americana, com meios pró-Republicanos a atacarem o processo e outros a criticarem a postura do ex-presidente norte-americano e seus apoiantes.
Enquanto os canais CNN e MSNBC optaram por não transmitir o discurso de Trump após a acusação, a pró-Republicana Fox News referiu-se ao Presidente norte-americano, Joe Biden, como "aspirante a ditador", ilustrando a forte polarização do clima político nos Estados Unidos.
"Aspirante a ditador fala na Casa Branca depois de ter o seu rival político detido", dizia um rodapé da Fox News, pouco antes das 21h00 de terça-feira (hora local, perto das 02h00 de quarta-feira em Lisboa), legendando imagens de Joe Biden a falar num ecrã dividido com Trump, que discursava perante os seus apoiantes, num dos seus complexos de golfe, no estado de Nova Jérsia.
Algumas horas antes, Trump havia declarado a sua inocência face às 37 acusações federais que enfrenta, relacionadas com documentos confidenciais da Casa Branca, incluindo informações sobre armas nucleares, e que não devolveu aos Arquivos Nacionais após o fim do seu mandato presidencial.
O polémico rodapé da Fox News, muito comentado nas redes sociais, surgiu durante o "Fox News Tonight", programa do horário nobre que recentemente substituiu um outro programa apresentado por Tucker Carlson, popular apresentador conservador demitido em abril.
Por seu lado, canais como CNN e MSNBC decidiram na noite de terça-feira não transmitir o discurso de Donald Trump em direto, depois de cobrirem a sua acusação, "porque, francamente, ele diz muitas coisas que não são verdadeiras e que às vezes são potencialmente perigosas", disse o jornalista da CNN Jack Tapper durante a emissão.
A CNN havia sido criticada por ter transmitido um programa ao vivo com Donald Trump em 10 de maio, uma sessão de perguntas e respostas com eleitores Republicanos durante a qual o ex-presidente multiplicou provocações e desinformação sobre o resultado das eleições presidenciais de 2020, das quais saiu derrotado.
O programa havia sido mal recebido internamente e acelerou a saída do CEO da CNN, Chris Licht, na semana passada.
No The New York Times, o colunista Bret Stephens teceu duras críticas a Trump e seus apoiantes: "É impressionante ler as 37 acusações do grande júri, com as suas posições de um ex-presidente tratando a lei com o insolente desdém de um chefe da máfia - mas sem a preocupação em encobrir o rasto".
"Nada disso influenciará a base apoiante de Trump, porque nada os influenciará. Não importa que eles tenham sido os mais indignados em 2016 com o suposto uso indevido de documentos confidenciais por Hillary Clinton", observou ainda, num artigo de opinião publicado na terça-feira.
Stephens foi mais longe na análise do ex-presidente, classificando-o como um "perdedor em série que teve sorte uma única vez", "cujo narcisismo sem fundo continua a custar aos Republicanos vitórias no Senado e nas corridas para governador" e avaliando que "a sua Presidência foi um passeio bêbado com um motorista imprudente fazendo curvas fechadas em alta velocidade".
Já o Conselho Editorial do conservador Wall Street Journal ataca o processo e também o ex-presidente, num artigo de opinião intitulado "O autodestrutivo Donald Trump", publicado hoje na versão imprensa do jornal, em que alerta para as implicações políticas que as acusações contra Trump podem ter, avaliando tratar-se de um "uso equivocado do poder de acusação" da procuradoria norte-americana, "que pode ter consequências destrutivas".
"Trump preferiria não ser acusado, mas ele já está a brandir as acusações contra si como uma credencial de campanha. Ele está quase a dizer que os Republicanos devem nomeá-lo como a única defesa que os norte-americanos têm contra os democratas e o Estado profundo", diz o artigo.
"Os factos alegados mostram que Trump novamente fez o jogo dos seus inimigos. As suas ações foram imprudentes, arrogantes e notavelmente autodestrutivas. Este é o mesmo Donald Trump que terão se o nomearem (candidato presidencial) pela terceira vez", acrescenta o texto do Wall Street Journal.
Trump, o primeiro ex-presidente dos Estados Unidos a ser indiciado criminalmente pela justiça federal, é acusado de colocar em risco a segurança dos Estados Unidos ao guardar documentos confidenciais, incluindo planos militares ou informações sobre armas nucleares, em locais como uma casa de banho ou salão de festas na sua mansão.
O magnata também é acusado de se ter recusado a devolver esses documentos, o que lhe valeu a acusação de "retenção ilegal de informações relativas à segurança nacional", mas também de "obstrução à justiça" e "falso testemunho".