Associação D3 promete avançar com providência cautelar contra uso obrigatório da app StayAway Covid
14-10-2020 - 14:54
 • Fábio Monteiro

À Renascença, Ricardo Lafuente, vice-presidente da Associação D3, confessa-se “surpreso” com a iniciativa anunciada por António Costa, que quer luz verde do Parlamento para tornar obrigatório uso da aplicação de rastreamento nalguns locais. Especialista denuncia "um ataque terrível às liberdades individuais".

Veja também:


A Associação D3 – Defesa dos Direitos Digitais vai avançar com uma providência cautelar contra o uso e instalação obrigatória da aplicação StayAway Covid em contexto laboral, escolar e académico, caso a medida anunciada esta quarta-feira por António Costa receba "luz verde" no Parlamento.

António Costa revelou, em conferência de imprensa, que o Governo vai apresentar uma proposta de lei para tornar obrigatório não só o uso de máscara na via pública, como também a instalação da aplicação de rastreamento de casos StayAway Covid.

“Vamos apresentar à Assembleia da República uma proposta de lei a que solicitaremos uma tramitação de urgência para que seja imposta a obrigatoriedade de uso da máscara na via pública - com o óbvio bom senso de só nos momentos em que há mais pessoas na via pública - e também da utilização da aplicação StayAway Covid em contexto laboral, escolar e académico, nas Forças Armadas e nas Forças de Segurança e no conjunto da administração pública”, anunciou.”, disse o primeiro-ministro.

Em declarações à Renascença, Ricardo Lafuente, vice-presidente da Associação D3, confessa-se “surpreso” com a iniciativa do Governo, que diz ser “um ataque terrível às liberdades individuais”.

"Não esperávamos [por esta medida], no meio da sensatez do Governo na gestão da pandemia, mas parece-me que agora, simplesmente, decidiram disparar para todos os lados”, afirma.

A StayAway Covid “foi sempre apresentada como um complemento ao rastreio de contactos manual e estamos agora a assistir ao contrário. No seu emprego da aplicação e na crença cega que ela vai servir para alguma coisa. Sem investimento adicional no rastreio manual”, nota.

Segundo o dirigente da D3, Portugal parece agora querer seguir o modelo chinês de rastreamento. “Estamos a falar da China, nesta coisa de obrigar os cidadãos a usar aparatos tecnológicos de rastreio. Mesmo as pessoas mais cínicas não estavam à espera que, de um momento para o outro, fossemos obrigados a instalar aplicações”, diz.

O ativista admite esperar que a proposta de lei anunciada pelo primeiro-ministro seja chumbada na Assembleia da República. Caso contrário, a Associação D3 irá avançar com uma providência cautelar que já começou a preparar, adianta.

Desde que foi disponibilizada no início de setembro, a aplicação desenvolvida pelo INESC-TEC foi descarregada 1,4 milhões de vezes – um número muito inferior ao necessário para traçar um retrato preciso da pandemia ao nível nacional. No passado sábado, o “Expresso” noticiou que até 8 outubro apenas 430 códigos de alerta de contágio foram gerados e desses somente 113 foram, efetivamente, submetidos na aplicação.