Idade é fator de risco no coronavírus. Superfícies podem ficar contaminadas por 9 dias
18-02-2020 - 13:39
 • Marta Grosso com redação

Maior estudo feito até ao momento sobre o Covid-19 indica que a taxa de mortalidade nas crianças é zero. Já na classe médica, a percentagem sobe bastante. Um outro artigo científico fala sobre a sobrevivência do vírus nas superfícies contaminadas.

A média dos doentes mais afetados com o novo coronavírus tem mais de 70 anos e a maioria dos casos registados revelou-se de baixa gravidade. A conclusão é do maior estudo realizado pelas autoridades de saúde chinesas.

O resultado da investigação foi publicado na segunda-feira num jornal chinês e indica que a idade é um grande fator de risco para quem é infetado com o Covid-19: até aos nove anos, a taxa de mortalidade é zero; sobe para pouco mais de 3% entre as os 60 e os 69 anos; volta a aumentar para cerca de 8% entre os 70 e os 79 anos e aproxima-se dos 15% no caso dos doentes com 80 anos ou mais.

A tendência estará relacionada com a debilidade geral do organismo e com outras doenças mais frequentes em pessoas com mais idade, como doenças cardiovasculares, diabetes e problemas respiratórios crónicos.

Entre as crianças, há poucos casos graves de coronavírus e a taxa de casos fatais é de 0,2% – o número mais baixo entre todas as faixas etárias.

Taxa de mortalidade baixa

O estudo vem reforçar algumas ideias que já existiam, como o facto de a taxa de mortalidade ser relativamente baixa.

De acordo com o Centro Chinês de Controlo e Prevenção de Doenças (CCDC), que analisou mais de 44 mil casos infeção até 11 de fevereiro, a maioria (80%) não teve gravidade.

Graves foram 13,8% dos casos estudados, enquanto apenas 4,7% foram considerados críticos.



Na província de Hubei, epicentro do surto, a taxa de mortalidade é de 2,9%, revela o mesmo estudo do CCDC, enquanto no resto da China continental é de 0,4%. O relatório coloca, por isso, a taxa de mortalidade geral do vírus Covid-19 em 2,3%.

Segundo os últimos dados oficiais, divulgados nesta terça-feira, o total de mortes no território continental da China é de 1.868, tendo 72.436 pessoas sido infetadas. Mais de 12 mil já estão recuperadas, adiantam as autoridades chinesas.

No espaço de 24 horas, as mesmas autoridades de saúde registaram 98 novas mortes e 1.886 novos casos, sendo que 93 dessas mortes e 1.807 infeções ocorreram na província de Hubei.

Mais homens do que mulheres

O sexo é outro fator diferenciador no que toca à gravidade da doença. O Covid-19 está a afetar mais homens do que mulheres.

Até agora, a percentagem de homens que morreram com o novo coronavírus é de 2,8%, enquanto no caso das mulheres a percentagem é de 1,7% – ou seja, quase metade da verificada no sexo masculino.

A profissão como fator de risco

No que diz respeito à mortalidade, há um outro dado que convém sublinhar: o número de profissionais de saúde infetados. É muito elevado. Até agora, são mais de três mil (3.019) médicos, enfermeiros e outro pessoal hospitalar.

Cinco morreram até dia 11 de fevereiro (último dia contado na investigação) – entre eles estará o oftalmologista que denunciou a existência do novo vírus.

Já nesta terça-feira, surgiu a notícia da morte do diretor de um dos hospitais de Wuhan (cidade onde o surto teve início), que também não resistiu ao Covid-19.

Liu Zhiming tinha 51 anos e é um dos profissionais mais graduados do setor que morreram até agora.

Vírus resistente obriga a cuidado com limpeza

Um estudo publicado no “The Journal of Hospital Infection” no início deste mês e divulgado nesta terça-feira pela CNN, indica que o Covid-19 pode sobreviver em superfícies inanimadas até nove dias, caso essas áreas não tenham sido desinfetadas.

Trata-se de superfícies como metal, vidro ou plástico. Limpá-las com os habituais detergentes domésticos pode fazer toda a diferença, sendo especialmente eficaz se tiverem na sua composição “62-71% de etanol, 0,5% de peróxido de hidrogénio ou 0,1% de hipoclorito de sódio”, indica a mesma investigação.

Colocar as superfícies em contacto com lixívia durante um minuto também parece ter efeito.


Há muito que a comunidade científica está preocupada e investiga a sobrevivência de outros coronavírus em superfícies inanimadas.

Baseados em 22 estudos anteriores, e já publicados, sobre o coronavírus, os investigadores do mais recente estudo dizem que o “intervalo de sobrevivência nas superfícies durou entre menos de cinco minutos a nove dias”, afirmou à CNN Charles Chiu, professor de doenças infecciosas da Universidade da Califórnia e diretor do Centro de Descoberta e Diagnóstico Viral da USCF-Abbott, que não estava envolvido no novo estudo.

A conclusão é feita com base numa relação direta com o que aconteceu com a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), o parente mais próximo do Covid-19, com 80% de similaridade.

“No entanto, é muito difícil extrapolar essas descobertas para o novo coronavírus devido às diferentes estirpes e condições ambientais que foram testadas nos vários estudos e à falta de dados sobre o novo coronavírus”, ressalva o cientista.

Os coronavírus são um tipo de vírus comuns entre os animais e que, em casos raros e de acordo com os Centros dos EUA para Controlo e Prevenção de Doenças, podem ser transmitidos aos humanos (o que os cientistas chamam de zoonose). Está por determinar que animal originou o atual surto.

O pior já terá passado

Os especialistas chineses acreditam que o pico da epidemia já terá passado. Ele terá ocorrido entre os dias 23 e 26 de janeiro, tendo começado a decair a partir de 11 de fevereiro.

As estatísticas dos últimos dias parecem confirmar esta conclusão, dado que o número de mortos está em queda há três dias consecutivos e a tendência de novos casos está também a descer – embora seja ainda preciso esperar para perceber se esta tendência se vai manter.



No dia 13 de fevereiro, a China mudou o processo de diagnóstico, ampliando a definição para incluir "casos diagnosticados clinicamente", que antes eram contados à parte dos "casos confirmados".